No ano passado, a artista brasileira Oxa foi um dos grandes destaques da versão alemã do programa The Voice. Seu nome artístico foi escolhido para dar nome à sua identidade. Ela não se define como homem ou mulher, e sim como gênero fluído. Oxa vem de Oxalá, a letra “o” representa o universo masculino, “a” faz referência ao feminino e o “x”, conforme ela explica,  seria seu espírito exercendo as duas forças na alma.

Ela é atração confirmada da The Original Brazilian Pool Party, que será realizado no dia 25/02, no Hode Luã Resort, em Guaratiba, Rio de Janeiro. A festa terá como atrações, além da cantora e bailarina, DJs brasileiros e internacionais.

Oxa canta, dança e interpreta. Ela agradece o carinho e afeto dos fãs e comenta que, mesmo sem muito material nas redes sociais,  conseguiu reunir um público que a recebe de braços abertos e com muito orgulho.

Confiram a nossa conversa com a artista.

Foto André Kowalski

Matraca Cultural – Como foi a participação no The Voice da Alemanha? Você considera um divisor de águas na sua carreira?
Oxa – Foi uma experiência muito importante. Sempre trabalhei com teatro musical e dançava mais que cantava. Logo depois das audições às cegas, eu descobri mais sobre mim e me reconheci como uma artista mais plural.  O programa me ajudou a saber quais são os meus limites e desafios, mudou a minha carreira e me deu o impulso que eu precisava para atingir minhas metas. Não venci, mas fiquei com o título de Heart Winner (Ganhadorx dos Corações). Foi lindo e necessário para mim. 

MC – Como tem sido sua experiência de trabalhar na Alemanha?
Oxa – Minha experiência na Europa foi e ainda é muito gratificante. Eu me reeduquei e tive muita sorte em trabalhar com produtores importantíssimos. Sinto que tenho muito a oferecer lá e também aqui no Brasil. São públicos completamente diferentes e ambos fazem parte da minha história.

MC – Antes você participou de realities no Brasil. Como foram essas experiências?
Oxa – Eu participei de programas como dançarina. No “Se Ela dança, Eu Danço”, no SBT, fiquei em 2° lugar. Na TV Record participei do “Q’Viva: O Escolhido”, o qual eu venci e, como prêmio, fui dançar com a cantora Jennifer Lopez em Las Vegas por alguns meses.

MC – Como foi, para você, perceber que não havia limites de gênero para a arte?
Oxa – Eu nunca pensei que houvesse um limite ou espaços para serem preenchidos. A minha formação artística foi muito educativa e, desde criança, interpretei os mais diversos gêneros. Nos tempos de hoje tudo está mais plural e aceitável, afinal, estamos falando de arte, que não é algo que se define, se sente.

MC – Você canta, dança e interpreta. Como foi o processo de identificar esses talentos?

 

Foto Torben Roehricht

Oxa – Eu danço desde criança. Sempre participava das comemorações de dança da minha cidade que eu organizava. Depois, atuei no teatro e fui me descobrindo na arte de interpretação. Quando me mudei para a Europa, tive a oportunidade de trabalhar em musicais, onde se faz de tudo, mil e uma utilidades. Depois de um musical da Broadway, me descobri uma pessoa trans não binária e comecei meu processo de autoconhecimento pessoal e artístico.

 

MC – Você é de uma pequena cidade do interior,  onde, assim como em outras regiões, o preconceito às pessoas que não são heteronormativas é grande. Você sofreu algum?
Oxa – Cresci em uma cidade pequena, onde quase não tinha internet e a informação sobre a comunidade LGBTQIA+ nunca era citada nas escolas. O preconceito sempre existiu e passei por muitas situações. Algumas pessoas entendiam e deixavam de lado os apelidos. Ainda me lembro das alcunhas: viadinho, mulherzinha, cabelo de poodle, marrom bombom, bicha entre outros.  Hoje em dia tenho orgulho desses apelidos!

Éramos duas crianças na família, eu afeminada e meu irmão, que já faleceu, era um homem trans. Sempre tinha comentários, brigas e até ameaças. Aliás, cresci em um ambiente de muitas brigas e o preconceito dentro de casa sempre existiu. Depois da partida dos meus avós, a família se dividiu muito, até por conta da divisão de bens. Hoje minha família se resume à minha mãe e alguns amigos, que sempre souberam de mim e me apoiam muito até hoje.

Foto reprodução Instagram

MC – Atualmente, no Brasil, temos artistas fluidos, transgêneros, drags, gays, lésbicas etc com projeção midiática. Qual a importância desse momento para as próximas gerações de artistas?
Oxa – Essa repercussão da nossa comunidade vem mudando o pensamento e comportamento de muitos. Sempre existimos e resistimos. Muitxs de nós morreram para que pudéssemos gozar do espaço que temos hoje. O momento é nosso e tenho muito orgulho de ver pessoas LGBTQIA+ sendo artistas e nos representando. 

Ainda bem que a nossa comunidade pode, nos tempos de hoje, contribuir, e muito, em relação a educação sexual. Vejo hoje nas redes sociais colaborações entre influenciadores do meio LGBTQIA+ dando verdadeiras aulas. Destaco nomes como Vitor diCastro e Rita Von Hunty como exemplos.

MC – Quais são suas principais inspirações em cada uma das artes?
Oxa – Tudo me inspira. Alguns nomes se destacam, como a Pina Bausch (dança e teatro), Fka twigs (artista plural e cantora), Sevdaliza, Pink, Lady Gaga, a cultura brasileira pop, o fashion design, e até a tia que vende pipoca nos finais dos shows.

MC – Você está com algum projeto em andamento? Qual é o momento atual da sua carreira?
Oxa – Meu novo single será lançado em fevereiro e leva o nome de “BIXA”. É algo militante e dançante, algo direto para a minha comunidade. Já tenho agenda de shows no carnaval, como a Pool Party, e outros pós-carnaval. Possivelmente terei um clipe gravado aqui no Brasil e tenho também um feat com um cantor que está conquistando o meio pop, o Piettro. O nome da música é “Vamo pra SP”. 

 

About The Author

Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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