Foto: André Velozo

O “Best of Blues and Rock” de 2023 foi uma verdadeira celebração da música, com uma incrível variedade de talentos no palco. Entre os artistas que brilharam no festival esteve a lenda do blues Buddy Guy e Nu-Blu Band, além do guitarrista Steve Vai, Tom Morello (ex Rage Against the Machine), Goo Goo Dolls juntamente com ícones da música nacional como Ira!, Dead FisheDay Limns e Artur Menezes.

Os três dias de evento tem muito a ser contado por aqui, principalmente pelo fato de estes artistas terem deixado uma marca duradoura no coração dos espectadores, mostrando a força e a diversidade do gênero blues e provando mais uma vez por que ele continua a encantar e cativar audiências ao redor do mundo. 

O blues é um gênero musical que se originou no final do século XIX, nas comunidades afro-americanas do sul dos Estados Unidos e desde então, tem passado por uma incrível evolução, abrangendo diversos subgêneros e influenciando uma ampla gama de estilos musicais ao redor do mundo.

O ritmo surgiu  de uma expressão musical simples e emocional, nascida das experiências de sofrimento e luta dos afro-americanos. Originou-se nos campos de algodão do Delta do Mississippi, onde os trabalhadores escravizados cantavam canções de trabalho e espirituais. Este verdadeiro “lamento”, evoluiu para o blues rural, caracterizado por letras melancólicas e repetitivas, acompanhadas por instrumentos acústicos, como violão e gaita.

À medida que a migração dos afro-americanos aumentava, especialmente durante as primeiras décadas do século XX, o blues começou a se espalhar para áreas urbanas, como Chicago e Nova York. Essa mudança geográfica resultou no desenvolvimento do blues urbano ou elétrico. Os músicos começaram a amplificar seus instrumentos, introduzindo guitarra elétrica e piano amplificado, o que deu ao blues uma sonoridade mais vigorosa e enérgica. Artistas lendários como Muddy Waters, Howlin’ Wolf e B.B. King emergiram nessa época, deixando um legado duradouro.

A partir dos anos 1950, o blues começou a se mesclar com outros estilos musicais, como o jazz, o rhythm and blues e o rock and roll. Essa fusão de gêneros resultou no blues-rock, que trouxe uma abordagem mais pesada e distorcida à música. Bandas como The Rolling Stones e Led Zeppelin foram influenciadas por esse estilo, ajudando a popularizar o blues para audiências mais amplas.

Em coletiva de imprensa, no Festival Best Of Blues and Rock, do qual o Matraca Cultural cobriu neste último final de semana (2, 3 e 4 de junho), Buddy Guy afirmou que precisou dos músicos brancos, para que o blues ganhasse relevância. 

“No final da década de 50/60, que o Rolling Stones apresentou para o mundo branco o blues e foi aí que se tornou “legal”. Eles  deram crédito  ao B.B King, Muddy Watters, mas  teve que ir para Inglaterra, para então voltar ao seu país de origem EUA, para ganhar destaque”. 

Durante as décadas seguintes, o ritmo continuou a se diversificar e se ramificar em subgêneros distintos. O blues contemporâneo incorporou elementos do funk, soul e até mesmo do hip-hop, mantendo a essência do estilo, mas adicionando novas texturas sonoras e abordagens criativas.

Foto: @maribernun

A evolução do blues é um testemunho da sua resiliência e influência duradoura. É um gênero que se adapta aos tempos, absorve novas influências e continua a emocionar e inspirar pessoas em todo o mundo. Sua jornada, desde as plantações de algodão do Mississippi até as salas de concerto lotadas, é uma história de expressão cultural e musical que permanecerá como parte essencial da história da música.

“O blues ainda é pouco tocado nas rádios e eu não entendo isso, mas estou trabalhando com a nova geração, homens e mulheres, para tentar remediar esta situação”, conta Buddy Guy, além de afirmar que o ritmo já deveria ter sido reconhecido como tesouro nacional, e que ele está nesta batalha do reconhecimento de músicos e canções. 

Buddy Guy que faz turnê de despedida da carreira e está prestes a completar 87 anos, é exemplo desta resistência através da música. Nesta passagem pelo Brasil, além de demonstrar todo seu carisma, timbre rouco, guitarra rasgada e uma experiência de deixar qualquer um intimidado, trouxe também os filhos para dar continuidade ao legado. Carlise Guy se apresentou no segundo dia de festival com a banda Nu-Blu Band, além de participar com o pai da coletiva de imprensa. 

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