Embora “permitir-se” não seja um adjetivo, é uma das principais características do trabalho da cantora MariElle. Ela se permitiu colocar em um mesmo álbum diferentes estilos musicais, como o reggae, rock, MPB, entre outros. A ideia era criar músicas que a tirassem de uma caixinha e não a rotulassem, até por conta das suas diversas influências musicais.

Ela se permitiu ao trazer para o disco Vem K Vem K V, disponível em todas plataformas de streaming de música, parcerias com grandes nomes da música, entre eles Zeca Baleiro, Peu Del Rey, Marcelo Quintanilha e o rapper Chad Harper.

Além disso, MariElle fortaleceu seu empoderamento feminino, ao colocar a mulher como protagonista de suas próprias histórias e escolhas em suas composições. Para ela, “a música, além de entreter, pode ter a função social de identificar, mostrar, provocar reflexão e, quem sabe, transformar”.

Nossa equipe conversou com a cantora e você pode conferir abaixo a entrevista na íntegra.

Matraca Cultural: Quais foram as suas influências no álbum Vem K Vem K V e como você conseguiu colocar todas nesse EP e ainda assim manter um trabalho no qual as composições se conversam?
MariElle: Eu me permito muito, porque, na verdade, eu gosto de diversos estilos e de falar sobre tudo que se passa dentro de mim. Não quero ficar dentro de uma caixa e ser rotulada por algo. Quero ter a liberdade de me apresentar como eu sentir necessário, seja pelo Reggae, Rap, rock e por aí vai. O que acho que de alguma maneira faz com que as faixas conversem é a verdade. Tem muita verdade em todo o projeto!

MM: Nesse álbum você canta com vários cantores renomados. Como surgiu a ideia das parcerias e como os convites foram recebidos pelos artistas?
M: São parceiros queridos, generosos e super talentosos. Em “Sitting Next To You”, o Chad Harper foi um convite virtual. Como o Chad é do Brooklyn, gravamos à distância. Em maio, depois que gravamos, tive a oportunidade de ir até Nova York e nos encontramos. E ele é um amigo querido e super talentoso. Adorou o convite e topou de cara.

Eu conheci o Zeca Baleiro por intermédio da Vânia Abreu (querida amiga) e tive a cara de pau de mostrar uma composição minha e ele super topou gravar, de cara também, “Talvez Nua”. A canção ganhou algo muito especial com o Zeca.

Como eu tenho insônia, aprendi a lidar com as noites mal dormidas e não sofro mais com isso. Agora chamo carinhosamente esse estado de “insônia produtiva”, porque geralmente é quando surgem as melhores ideias. E, em uma noite dessas, eu fiz um som e na manhã seguinte mandei para o Peu Del Rey. Ele adorou e já me mandou de volta com o refrão que faltava. Gostamos demais e colocamos no álbum. Peu, inclusive, co-produziu essa música com o Maestro, produtor do meu disco.

Além de cantora e compositora, sou apresentadora também. Fui à Hitmaker entrevistar o Marcelo Quintanilha. E no caminho criei um refrão que não saia da minha cabeça e fiquei cantarolando o tempo todo. Aí na gravação rolaria uma jam e cantei pro Quinta, para o Xinho (baixista e produtor musical) e Maestro, que lá estavam. Quinta adorou o som e já criou o B que faltava. E juntos colocamos o C. E assim nasceu a sátira “Maria Joga o Arroz pra cima”.

MM: Algumas canções do disco, se ouvidas em sequência, contam a história de uma mulher que em um primeiro momento está em um jogo de conquista, mas que valoriza sua individualidade ao dizer que vai se divertir no carnaval, e fecha a narrativa na composição na qual ela diz que quer distância de alguém que está impondo um relacionamento abusivo. Houve a intenção de contar essa história, ou foi um resultado natural do trabalho?
M: Houve a intenção de falar sobre a mulher independente e empoderada que existe em todas as mulheres. Infelizmente, algumas delas não conseguem se reconhecer nesses adjetivos tão bonitos e fortes. Eu acho que a música além de entreter pode ter a função social de identificar, mostrar, provocar reflexão e quem sabe transformar. E como artista, gosto de expor meus pensamentos e experiências em minhas canções.

MM: Em algumas composições o empoderamento feminino fica muito claro nas letras. Por que você fez questão de colocar esse posicionamento no seu trabalho e qual a importância de colocar a mulher como protagonista de sua própria história?
M: Por que não? Fiz questão porque sou mulher e nosso mundo é composto por mais mulheres que homens e estamos em um momento de permissão, de nos permitir mais, de ser mais e estar mais. Falo de pensamentos, histórias, experiências, seres humanos e também mulheres.

Eu acredito no amor, na generosidade, na igualdade, na empatia, no afeto e no coletivo. E acredito que se houvesse mais amor, mais generosidade, igualdade, empatia, afeto e um real coletivo a sociedade seria muito mais justa.

MM: Você teme algum tipo de represália pela parcela da sociedade contrária às pautas de igualdade pregadas pelo feminismo?
M: A primeira vez que um hater foi ao meu canal e despejou todo o seu ódio gratuito em palavras foi um choque para mim. Mas eu quis entender o porquê. Conversei com a pessoa, perguntei o que o fez ir até a minha página, assistir ao meu conteúdo, investir seu tempo escrevendo diversas linhas negativas sobre mim e ainda assim continuar me seguindo. E depois de conversarmos muito, essa pessoa acabou mudando de opinião e entendendo o meu objetivo enquanto artista na sociedade. Entendi também que ninguém é unânime e que não somos iguais, ainda bem porque acredito que é através das diferenças que podemos construir bons diálogos e consequentemente boas histórias.

Então eu não temo represália porque uma parcela dessa galera (espero que pequena) não vai se identificar com meu conteúdo. É natural e faz parte de toda trajetória, não só artística.

MM: Recentemente, você lançou a música “Todo Dia”, com a produção de Paulo Vaz, da SUPERCOMBO. Como foi essa parceria?
M: Eu gravo como cantora e locutora de publicidade em alguns estúdios de São Paulo e um deles é a Lua Nova, onde o Paulinho Vaz trabalha como compositor e produtor. Independente do trabalho, somos amigos e a gente estava falando de música quando surgiu o assunto dele me produzir. E depois que eu ouvi o resultado do Single “Todo Dia” me reconheci bastante nesse projeto e espero que seja a primeira produção em parceria com o Paulinho de muitas outras.

MM: Quais são os seus planos para 2019? Tem previsão de algum show?
M: O ano de 2019 tem diversas surpresas maravilhosas. Gravei outro single com AC Slator, rapper de Clearwater (Flórida), que vai sair ainda esse ano, além de outras parcerias e projetos que irão sair este ano. Vamos ter alguns shows também. Em abril, faço um pocket show mais intimista no Hostel Casa Azul, em São Paulo. Todas as novidades estão no site mari-elle.com e no instagram.com/marielle_oficial

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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