Eu comprei a minha primeira saia

Recentemente, tomei a coragem de comprar a minha primeira saia, e digo a vocês que, ainda que seguro de minha identidade de gênero e sexualidade, escolhi um modelo menos “gritante”. A minha primeira saia foi preta! Segundo um dos donos da @cejuntos, a loja onde comprei a saia, a cor preta é um bom start. O casal, Francisco e Emerson, aposta em uma moda democrática, com roupas de tamanho único, atemporais e agêneras. Inclusão e representatividade.

Mas, creio que seja, sim, um bom começo. Usar a saia talvez seja um ato mais político que meramente estético. Claro que teremos “biscoitos” né, meus amores?!

Eu venho passando por esse questionamento há muito tempo, nunca me desceu a ideia de serem tão pré-definidas as coisas de meninas e de meninos. Eu, assim como muitos amigos, passei por diversos constrangimentos na infância por isso. Em determinado tempo eu tinha que gostar de carrinhos, soldadinhos, lutas, do tão vangloriado futebol e, pasmem meus amores, da cor azul. E, vos digo, não culpo meus pais por isso, pois eles só estavam seguindo o fluxo. Aos dez anos, se não me falha a memória, fui treinar futebol e me deparei com um universo com o qual não me identifiquei, entendem? Não me identifiquei, só isso. E com qual universo eu viveria naquela época, sendo a outra opção só permitida às meninas?  De um jeito muito custoso, perturbador, instintivo, intuitivo e, para muitos, traumático, passamos e chegamos na vida adulta e posso dizer com toda certeza, quase nunca foi simples.

“Meninos vestem azul e meninas vestem rosa…”, essa frase foi e exaltada pela atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que confirma e ressalta o posicionamento, preconceituoso e retrógrado da extrema direita, composta, em grande parte, por uma bancada evangélica, que vem atuando no “poder”.

É assustador e preocupante que estejamos em pleno ano de 2021, tendo que discutir, identidade de gênero e liberdade de expressão. Mas sim, precisamos ainda falar sobre isso.

Eu escrevi um livro sobre isso, “Eu não gosto de Princesas”, que conta um pedacinho da história do Iago, que não se identificava com os amiguinhos da escola, que só queriam brigar com as meninas por elas gostarem de princesas e eles só dos super-heróis. Iago não gostava dos super-heróis e, na verdade também não gostava das princesas ele gostava de príncipes (ops, alerta de Spoiller).

Nesta obra eu mostro que é preciso olhar para as nossas crianças e mudar o tal “fluxo” e permitir que elas gostem de azul, rosa, amarelo, verde, roxo, bonecas, carrinhos, independentemente de seu gênero. São crianças!

No chá de revelação vocês poderiam dar chance para outras cores e confundirem os convidados, que tal? Seria divertido e altamente inclusivo. Contemporâneos né, amores?!

A escola, lugar de grande impacto na construção de conceitos, valores e de formação da criança, precisa refletir tais questões. Educação integral e inclusiva.

Bom, minha saia já chegou, logo vou usar e ainda não sei como será a sensação e nem a reação das pessoas. Mas, para falar a verdade, pouco importa a reação dos outros e sim a minha sensação. Tenho certeza que, mais do que curtidas nas redes sociais, eu terei a satisfação de estar escrevendo minha história autêntica e transformadora e, finalmente saindo do fluxo.

Na próxima eu conto para vocês como é estar fora do fluxo, um beijo e muitas cores para vocês todes!

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