Há poucos dias, o Matraca Cultural contou algumas histórias de pessoas que encontraram uma nova forma de realizar suas atividades para continuar ajudando ao próximo durante a quarentena . Apresentamos a seguir mais algumas dessas histórias: 

Solidariedade e esperança nas regiões carentes de São Paulo

O fundador da ORPAS, Daniel de Faria, no centro da imagem, com demais integrantes da ONG

ORPAS

Desde 2005, a ONG ORPAS (Obras Recreativas, Profissionais, Artísticas e Sociais) vem transformando a vida de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade por meio de iniciativas que tratam de questões étnicas, diversidade, cultura, educação, empreendedorismo e cidadania. Tudo começou no quintal da casa do fundador da ONG, Daniel Neves de Faria. 

O pequeno espaço, localizado no Jardim São Luís, extremo sul da cidade de São Paulo, se transformava numa espécie de sala de aula para receber 55 alunos interessados em aprender a tocar teclado, violão e bateria.  Com a multiplicação das oficinas, aumentou-se o número de interessados e o quintal do fundador ficou pequeno para receber tanta gente e, desde então, a organização foi crescendo.

Atuando na região, que possui hoje mais de 300 mil habitantes, a ORPAS tem como objetivo incentivar a arte, a cultura e as novas tecnologias na comunidade, fazendo um trabalho que possibilite um acesso maior e mais fácil a estes conteúdos, promovendo assim a integração social. Promovendo a cultura periférica, ele conta que a ONG já impactou, no ano, mais de 10 mil pessoas, por meio dos eventos realizados por ela. 

A organização também desenvolve uma série de projetos, incluindo internacionais, como o recebimento de mais de 150 intercambistas oriundos de países como Egito, EUA, Ucrânia, México, Argentina, Colômbia, Peru, Finlândia, dentre outros, para apoiar o desenvolvimento das ações da ORPAS na comunidade. “Além disso, também representamos o Brasil em diversos países da Europa, da América do Sul e da América Central em discussões de Direitos Humanos e Empreendedorismo Social”, conta Faria. 

Ele destaca outros projetos realizados, como a manutenção de um banco comunitário que permite a circulação de uma moeda social pelo distrito, além do programa de microcrédito e de incentivo a economia criativa; escola de talentos para crianças de 4 a 12 anos; programas para jovens empreendedores com 11 cursos profissionalizantes, como fotografia, comunicação, gestão de restaurantes etc; Troféu Periferia Brasil, que reconhece iniciativas culturais e sociais em destaque pelo Brasil, entre inúmeros outros. 

Mas, e com o isolamento social? Como manter as atividades da ONG sem colocar vidas em risco? Muitas mudanças ocorreram, mas as engrenagens da organização não pararam de rodar. 

“Para mitigar os impactos do coronavírus na comunidade, elaboramos algumas ações, entre elas: distribuição de cestas básicas com kits de higiene pessoal e produtos de limpeza; crédito emergencial e micro empréstimos às famílias da comunidade que tiveram suas rendas zeradas e para microempreendedores e autônomos; voluntários para fazer compras em mercados e farmácias para idosos ou pessoas acamadas que não tenham apoio da família e apoio às mulheres e crianças que estejam em situação de violência doméstica (orientação jurídica, psicológica, assistência para acessar a rede de proteção)”, relata Faria. 

No entanto, as ações não param por aí, pois os canais de atendimento da ORPAS ainda oferecem orientações para o esclarecimento de dúvidas sobre o coronavírus, questões financeiras para as famílias, empreendedores e trabalhadores autônomos, além de dicas pedagógicas sobre atividades que podem ser desenvolvidas pelas crianças no período de isolamento social. Outra ação é a distribuição de marmitas para pessoas da comunidade em alta vulnerabilidade. “Os atendimentos ocorrem priorizando os casos mais críticos e de acordo com a disponibilidade dos recursos”, conclui.

De acordo com dados divulgados na fanpage da ORPAS, em três semanas, as ações já resultaram na arrecadação de cerca de mais de quatro toneladas de produtos, 588 pessoas impactadas diretamente com as assistências, 507 mil pessoas alcançadas pelos canais de atendimento e mais de R$ 38 mil arrecadados. 

Para saber mais sobre a ONG ORPAS e, até mesmo, como ajudá-la, basta acessar o site: www.orpas.org.br

Vocação

A arrecadação de produtos para regiões mais carentes também foi uma das medidas adotadas pela ONG Vocação que, há 53 anos, impacta a vida de crianças, adolescentes, jovens, famílias e suas comunidades na Zona Sul do município de São Paulo e regiões de M’Boi Mirim, Itapecerica da Serra e Embu Guaçu.  

A Vocação defende um país rico em oportunidades, onde pessoas e comunidades se desenvolvam em plenitude. Assim, dirige-se às empresas,  instituições públicas e à sociedade civil organizada para celebrar parcerias nas quais dissemina sua metodologia, por meio de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) parceiras, que atuam nas centenas de unidades de atendimento socioassistencial apoiadas pela organização”, afirma Celso Freitas, superintendente da Vocação.

Antiga Ação Comunitária do Brasil fundada por um grupo de empresários, como Francisco Matarazzo Sobrinho, Paulo Ayres Filho, Ruy Mesquita e José Martins Pinheiro Neto, dentre outros, na década de 60, a ONG, segundo Freitas, tem como um dos seus propósitos despertar e fortalecer vocações para transformar realidades e ampliar horizontes. “Para isso, ela trabalha por meio do Centro de Desenvolvimento Integral e do Centro de Integração ao Mundo do Trabalho. Esses espaços buscam promover ações e estratégias para a construção de habilidades socioemocionais, participação social e cidadania em crianças, adolescentes e jovens”.

A ONG Vocação oferece atendimento regular em algumas comunidades da Zona Sul paulista e da Grande São Paulo

O primeiro centro é um dos eixos da ONG, construindo metodologias ativas que consistem na formação contínua dos profissionais das Organizações da Sociedade Civil que mantém, em parceria com o governo e com outros investidores regulares, por meio de atendimento regular nas comunidades. Tudo para o fortalecimento comunitário e familiar em regiões com alto índice de vulnerabilidade social.

Já o Centro de Integração ao Mundo do Trabalho capacita jovens, profissionalmente, a fim de preparar-lhes melhores oportunidades de integração com o mundo profissional. A metodologia visa orientar a obtenção do primeiro emprego, por meio do uso das novas tecnologias para a promoção da aprendizagem, facilitando o ingresso, a permanência e a ascensão de jovens no mundo do trabalho através de oportunidades de emprego, completa Freitas.

Com o isolamento social, o superintendente afirma que todas as atividades presenciais foram suspensas e os colaboradores passaram a atuar em suas casas. “Com auxílio de plataformas, conseguimos retomar rapidamente as formações e estamos satisfeitos com os resultados. Na parte de mobilização de recursos, direcionamos todos os nossos esforços para socorrer as famílias e iniciamos uma campanha para arrecadação de três mil cestas básicas”.

A medida faz parte da campanha Ação Solidária contra COVID-19, lançada no início do mês de abril pela ONG com o intuito de arrecadar, primeiramente, R$180 mil reais em 30 dias para a aquisição de três mil cestas básicas. A meta não só foi superada em apenas sete dias, como o total arrecadado chegou a R$ 250 mil. Dessa forma, a Vocação lançou a segunda fase da campanha com o intuito de arrecadar R$ 360 mil em 80 dias. Mais uma vez, para surpresa de quem atua na ONG, a meta foi batida em menos de um mês, totalizando um valor de R$ 548.288,34 arrecadados, tanto na primeira, quanto na segunda fase, o que significa um aumento na compra de cestas básicas e kits de higiene para distribuição. 

Segundo dados da assessoria da organização, as três mil cestas com alimentos e produtos de higiene já foram entregues às famílias que moram em comunidades da Zona Sul da capital paulista. Com a nova doação, o intuito é comprarem mais seis mil cestas. 

Para conhecer melhor a organização, acesse o link: https://www.vocacao.org.br/

Ajudar quem nos ajuda

Em meio ao cenário caótico de pandemia, é louvável o trabalho daqueles que seguem na ativa, 24 horas por dia, para salvar o maior número de vidas possível: os profissionais da área da saúde. Diante do cansaço e da falta de equipamentos em hospitais para atender a todos os pacientes, muitos se encontram em exaustão. Pensando neles, a startup brasileira Doare, que intermedeia doações online, reuniu várias instituições da saúde e, após realizar pesquisas com especialistas da área, detectou uma grande dificuldade encontrada por parte destas instituições e profissionais devido a falta de material para trabalhar e do próprio teste para detectar a Covid-19.

Com o intuito de auxiliar na solução de tais problemas, a Doare criou um marketplace de doações, em que pessoas físicas e jurídicas podem fazer doações de qualquer lugar do mundo, sem saírem de suas casas, e em diversos tipos de moeda. “Os hospitais filantrópicos e as organizações sociais precisavam de uma plataforma de doações que atendesse as necessidades do momento atual. As opções de mercado que estavam disponíveis eram as plataformas de crowdfunding (financiamento coletivo) que cobram entre 12 a 17% das doações e demoram 30 dias para realizar o repasse financeiro”, afirma Ruy Fortini, CEO da Doare. Ciente desses entraves, a equipe da startup criou a campanha CombateCovid.org, disponibilizando uma tecnologia com condições de recebimento mais acessível por meio de uma parceria estabelecida com o Mercado Pago. 

Ruy Fortini, CEO da DOARE

Outro motivo apontado por Fortini para a criação da campanha é criar um lugar seguro para a sociedade fazer doações às organizações que estão na linha de frente do combate à Covid-19 no Brasil. Entre as instituições beneficiadas, de acordo com o CEO, estão: Hospital das Clínicas de São Paulo, Santa Casa de São Paulo e Belo Horizonte, FIOCRUZ, Hospital do Câncer de Mato Grosso, Hospital da Baleia, entre outros.

Até o dia nove de abril, Fortini relata que mais de R$ 4 milhões de reais haviam sido doados para a campanha por mais de 30.000 pessoas que se sensibilizaram pelas causas de combate à Covid-19 e, dessas, 1200 estão fora do Brasil.

Para saber mais, acesse o link: https://combatecovid.org/

A pandemia do novo coronavírus resultou na criação de outros hábitos que prezam, acima de tudo, o distanciamento social, algo difícil para a humanidade, especialmente para os brasileiros que são seres tão hospitaleiros, especialmente por meio do abraço e do beijo. Mas uma coisa é certa: se o contato físico diminuiu, o coração solidário de muitos passou a bater mais forte e a acolher o próximo por meio da solidariedade.

About The Author

Mariana Mascarenhas

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Amante das artes em suas mais variadas formas: cinema, música, exposição, literatura…. Teatro então? Nem se fala! Busca estar sempre antenada com a programação teatral para conferir aquela peça que está dando o que falar: seja para divertir, emocionar ou refletir. Só conferir os textos e ficar de olho no que tá rolando por aí.

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