O produtor Renato Alves comenta sobre a falta de apoio da Secretaria Especial de Cultura e a instabilidade da classe artística

Quando foram divulgadas as primeiras regras de distanciamento social para conter o avanço da COVID-19, a cultura começou sentir o impacto. Grandes festivais foram cancelados, temporadas de teatro e de espetáculos de dança encerradas, ou com a estreia cancelada, produções de cinema interrompidas e circos faliram. Os artistas e grupos de diferentes manifestações culturais estão passando por dificuldades financeiras, já que dependem da presença do público para gerar receita.

A trupe teatral Fagulhas D’Arte é um dos muitos grupos de teatro que sofreram impacto: os quatro espetáculos que estavam em cartaz foram interrompidos, bem como os ensaios presenciais. Atualmente dependem da cia. cerca de 50 pessoas, entre atores e técnicos. Renato Alves, diretor da cia. e da agência de eventos artísticas que leva o mesmo nome, afirma que, infelizmente, não sente que a classe artística está sendo bem representada no governo.

“É nítido o descaso da secretária especial da Cultura, Regina Duarte, com nós, que fazemos arte. Ela já esteve desse lado, deveria entender o que estamos passando, mas parece estar cega pela ganância. Ela tem o salário dela garantido, enquanto muitos não sabem como vão poder pagar as contas básicas. A maior parte dos artistas não é rica e poucos ganham o suficiente para ter uma reserva financeira. Ela representa a cultura no governo e deveria fazer jus ao seu verdadeiro papel”, comenta Alves.

Para ele é muito triste não poder confiar na instituição que deveria representar o setor e que, atualmente, confia mais no apoio de empresas privadas que reconhecem a importância da cultura para o país. Diversas companhias se mobilizaram para ajudar artistas, criando editais, monetizando lives e, até mesmo, com a doação de cestas básicas.

Diante do cenário de incertezas, para Alves, os artistas precisarão de muito equilíbrio psicológico para passar pela crise inevitável. O período também exigirá que muitos repensem a produção cultural para o cenário pós-pandemia, dado que pode haver uma grande mudança na forma como as pessoas consomem arte. “A graça de ser artista é se ver ver obrigado a criar diante de adversidades. Aliás, a instabilidade é o cotidiano da maioria das pessoas que fazem arte”, afirma.

Alves lançou recentemente o livro “Meu contributo à evolução humana”, que contempla suas reflexões e experiências de vida e tem o objetivo de contribuir com a evolução humana. “Cada pessoa carrega em si suas vivências, experiências, referências, identificações e crenças. Não sou o dono da razão, nem pretendo ser, porém, alguns dos conceitos passados neste livro me fizeram, e me fazem, viver bem e melhor, por isso a vontade de dividir essa experiência. Espero que essas possam vir a somar com a vida de outras pessoas, ou ao menos fazê-las refletir”, completa. O livro está disponível no Clube dos Autores.

Live com o diretor Renato Alves

No dia 1º de maio o diretor realiza uma live para falar sobre o livro. Será às 18h, no perfil do Instagram do Fagulhas D’Arte.

Aos espectadores que quiserem ajudar a classe artística, ele recomenda procurar associações de produtores, cooperativas e órgãos representativos para saber quais delas estão realizando campanhas de arrecadação, procurar iniciativas de financiamento coletivo e consumir cultura durante o isolamento social. “Não se esqueçam que por trás de uma série, filme ou qualquer espetáculo cultural, tem uma mente criativa. Consumam muita cultura, mas não se esqueçam lá na frente que ela nos ajudou a suportar a quarentena”, finaliza.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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