Pela primeira vez na história do Oscar, um longa sul-coreano é indicado na categoria de Melhor Filme. A produção estrangeira faz jus à indicação, afinal, apresenta com maestria problemas que permeiam o mundo, como a desigualdade social, revestido de um humor negro e baseado numa história surpreendente do começo ao fim.

A trama narra a história de uma família muito pobre, que vive no porão de um prédio, composta por um casal e dois filhos jovens. Todos se sustentam montando caixas de papelão para uma pizzaria, já que marido e mulher não possuem trabalho fixo e os filhos não estudam. A situação começa a mudar quando o jovem reencontra um amigo, que oferece a ele a oportunidade de dar aulas de inglês para uma adolescente, filha de um casal muito rico que vive numa mansão.

O rapaz acaba, então, aceitando a oferta e, ao entrar na mansão, vislumbra a oportunidade de inserir sua irmã e seus pais naquele mundo também, cumprindo funções que não são as deles. Assim, gradativamente, a irmã e os pais do adolescente passam a trabalhar para a família rica – apresentando-se com novos nomes, como não se conhecessem –, sem que esta perceba algo.

A princípio, o plano do jovem funciona muito bem, mas, um acontecimento inesperado causa uma reviravolta na vida de sua família para surpresa não apenas dos personagens, como do público, pela apreensão causada a partir de então. Inicia-se, então, uma sucessão de acontecimentos inesperados que chocam a cada instante até o final da trama, que se revela o ápice da surpresa.

Embora Parasita esteja classificado como um filme de suspense, podemos dizer que vá muito além, ao mesclar outros gêneros numa única produção, como comédia, drama e terror. Uma ousadia arriscada que poucos conseguem acertar, como é o caso do diretor da trama Bong Joon-ho. O sul-coreano, que está sendo considerado um dos melhores cineastas da atualidade, faz um trabalho fenomenal ao conseguir produzir cenas, muitas vezes, tão distintas umas das outras, numa produção que dura um pouco mais de duras horas, mas que, ao mesmo tempo, possuem total coerência entre si.

Além disso, é louvável a forma como o diretor faz questão de ressaltar as distinções sociais entre as duas famílias, não somente a partir de suas histórias como de elementos cenográficos que pontuam claramente tal desigualdade. Um forte exemplo é a constante presença de uma minúscula janela com grades, no lar da família pobre, cuja vista é a calçada, já que moram num porão, em contraste com as gigantescas janelas sem grade na mansão da família rica. Uma cena também ressalta as diferenças quando ambas as famílias enfrentam uma forte tempestade, de modo que uma sente o impacto de forma muito mais intensa do que a outra.

Parasita se tornou mais conhecido após ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além do prêmio de público na 43ª Mostra Internacional de Cinema e de receber o Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro. E, além de concorrer ao Oscar de Melhor Filme, disputa também nas categorias de melhor direção, filme estrangeiro, roteiro original, direção de arte e montagem.

Mesmo que não leve os principais prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a produção coreana já pode se considerar uma vitoriosa por romper as conhecidas fórmulas cinematográficas, muitas vezes, com final previsível. Vale ressaltar também a excelente atuação do elenco, que contribuem para a maestria da obra.  É assistir e se surpreender do começo ao fim.

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Mariana Mascarenhas

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Amante das artes em suas mais variadas formas: cinema, música, exposição, literatura…. Teatro então? Nem se fala! Busca estar sempre antenada com a programação teatral para conferir aquela peça que está dando o que falar: seja para divertir, emocionar ou refletir. Só conferir os textos e ficar de olho no que tá rolando por aí.

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