Para especialista, os pais ou responsáveis podem e devem abordar questões sensíveis que afetam a adolescência dos jovens, porém de forma espontânea


A Netflix anunciou em sua conta no Twitter a alteração da cena da série
13 Reasons Why (13 Razões) na qual Hannah Baker, a personagem principal, comete o suicídio. A edição ocorreu por decisão conjunta com o criador Brian Yorkey e os produtores, após recomendação de um grupo de médicos especialistas em prevenção ao suicídio.

De acordo com estudo publicado no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, nos noves meses após o lançamento da série, em 31 de março de 2017, 195 jovens entre 10 e 17 anos tiraram a própria vida nos Estados Unidos, o maior índice dos últimos cinco anos.

A série conta a história de Hannah, que gravou 13 fitas K7 contando as razões pelas quais ela tira a própria vida. Entre os motivos estão a exposição de privacidade, bulliyng e abuso sexual. No final, ela entra em uma banheira, corta os pulsos e fica ali, até ser encontrada morta pelos pais. Após a edição, a personagem apenas olha para o espelho e depois é encontrada sem vida. A estreia da terceira temporada está prevista para o final de  agosto. Clique aqui para ver o trailer.

Para especialistas, é possível que haja relação entre o lançamento da série e essas mortes, que podem ter ocorrido por imitação. “A alteração tem seu lado positivo, quando se pensa na preocupação de que essa cena possa estimular os jovens a copiá-la. O suicídio na mídia serve como um gatilho para uma pessoa suscetível ou sugestionável”, afirma a psicóloga e neuropsicóloga Elaine Di Sarno.

Para ela, ainda assim, é muito importante falar sobre o assunto, porém com muito cuidado nos diálogos. “O melhor caminho para ajudar é conversar,deixar a pessoa falar de suas dificuldade e procurar ajuda especializada. Isso precisa ser mostrado em todas as produções culturais que abordam o tema”, finaliza.

Confiram abaixo entrevista do Matraca Cultural com a psicóloga e neuropsicóloga Elaine Di Sarno. A especialista dá dicas de como ajudar e identificar jovens com tendências suicidas.

Matraca Cultural – Há alguma percepção sobre os principais motivos que levam os jovens a se suicidarem?
Elaine Di Sarno – Na maioria das vezes não é um único fato ou situação, e sim uma série de pequenas, mas, decepcionantes circunstâncias, que podem criar na mente do jovem a imagem de um futuro sem esperanças. O desamparo e desespero também são fortemente associados ao suicídio. Circunstâncias externas, tais como: eventos traumáticos de perda, separação, luto, também podem ser motivadores.

O uso cada vez mais precoce de álcool e drogas também podem ser gatilhos. A combinação de impulsividade, desesperança e abuso de substâncias pode ser letal.

Uma outra questão que também influencia os jovens é a descoberta da homossexualidade, quando eles assumem isso perante a família e a sociedade. Dependendo da maneira como a situação é tratada, é um fator de risco para o suicídio. A pressão com a carreira, a pressão em ser o melhor também são preocupações que pesam.

Mas também há casos em que o suicida quer realmente morrer, não dando qualquer sinal para não levantar suspeitas. Esses são, sem dúvida, os casos mais difíceis de prever e de intervir.

 

MC – A série chama bastante atenção para o bullying e abuso como fio condutor para o suicídio. Qual a importância dos pais ou responsáveis conversarem com os jovens sobre os perigos das “piadinhas”?
ES – A adolescência é um período de transformações significativas do ponto de vista biológico, psicológico e social, e o jovem é vulnerável às avaliações e aos julgamentos de seus pares. O bullying tornou-se um fator de risco a mais, pois muitos se veem sem saída, humilhados, expostos e reagem com o ato suicida. O papel dos pais ou responsáveis é de extrema importância para alertar os filhos para que não pratiquem o bullying e sobre como devem lidar com a situação caso sejam alvo. Caso necessário, os pais ou responsáveis também pode buscar ajuda especializada para lidar com a situação.

 

MC – Qual a melhor forma de ajudar quem pensa em tirar a própria vida?
ES – Os pais podem e devem falar sobre o assunto, porém de forma espontânea. Se o assunto não aparecer naturalmente, ele pode ser introduzido de modo a deixar claro que certas coisas acontecem e que devemos conversar sobre elas. É possível dizer frases como: “algumas vezes, quando nos sentimos mal, pensamos que seria melhor não ter nascido ou que seria preferível morrer. Você já teve pensamentos desse tipo?”.

É fundamental ouvir com atenção e respeito, sem julgamento, censura ou preleções morais. O importante é reafirmar a preocupação e o desejo de conversar e ajudar, mesmo que isso implique tocar em assuntos delicados.

O adolescente deve ser acolhido, protegido e receber apoio, não castigo. É preciso respeitar a dor do outro. Muitas vezes, podemos achar a motivação banal, mas cada um sente e se angustia com as coisas de forma particular.

 

MC – Há algo que queira acrescentar?
ES – É necessário perceber que o suicídio é, sobretudo, o meio que encontram para dar fim a sua dor, o objetivo principal é parar o sofrimento e não exatamente colocar fim a sua vida. Quando acolhidas a tempo, as pessoas podem entender que há outras formas de resolver as suas circunstâncias e que há pessoas empenhadas em ajudá-las.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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