O prêmio máximo, o Leão de Ouro vai para Coringa de Todd Philips

Na última semana Coringa levou o Leão de Ouro, o prêmio máximo no Festival de Cinema de Veneza. O reconhecimento pode ser interpretado como um indicativo de que o filme deve ser bem recebido em outras premiações internacionais e catapulta o filme para a corrida do Oscar do ano que vem. Todd Phillips, diretor do longa, subiu no palco para receber o prêmio e agradeceu à Warner Bros. e à DC por saírem da zona de conforto em uma aposta tão ousada nele próprio e no filme. Ele também aproveitou a oportunidade para elogiar Joaquin Phoenix, que interpreta o protagonista.

“Não há filme sem Joaquin Phoenix. Ele é o leão mais feroz, mais corajoso e mais mente aberta que eu conheço. Obrigado por confiar em mim o seu talento insano”, comentou.

Oferecer o prêmio a um filme baseado em quadrinhos (este Coringa é aquele mesmo, o famoso inimigo do Batman) é uma escolha no mínimo inusitada, dado o histórico do júri. Porém, o júri comandado pela argentina Lucrecia Martel optou mesmo por filmes pouco óbvios.

A maior surpresa foi a vitória de Roman Polanski, levando o Leão de Prata por J’accuse. Polanski foi condenado pelo estupro de uma adolescente de 13 anos em 1977, nos EUA, e atualmente encontra-se foragido da justiça americana, refugiado e residindo entre a França e a Polônia (Polanski possui dupla cidadania), países que se negam a extraditá-lo. A vitória é surpreendente porque Martel, a presidente do júri, havia reclamado da presença do diretor entre os concorrentes inclusive a ponto de se recusar a participar da sessão de gala do evento. J’accuse conta a história de um militar judeu acusado injustamente de trair a França. Pode-se interpretar que Polansky usa a película para falar também de si, afinal, se considera vítima de um linchamento público, como seu personagem sofreu no século 19.

O Brasil também marcou presença, brilhando no festival. Levou o prêmio de melhor documentário sobre cinema na mostra Clássicos, com o filme Babenco, Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou. 

O filme da diretora Barbara Paz conta a trajetória e os últimos anos de vida do cineasta Hector Babenco (Carandiru, O Beijo da Mulher Aranha), falecido em 2016. Com imagens de hospitais, registros de filmes do cineasta e cenas de bastidores da obra de Babenco, o longa evita o tom “fúnebre” e procura ter uma visão do cineasta como um homem que amou a vida e a criação artística. Bárbara, que foi casada e viveu junto por nove anos com Babenco, fez uma forte crítica ao atual posicionamento do governo em relação a políticas públicas voltadas à cultura em seu discurso de vitória.

Este prêmio é muito importante para o meu país. Precisamos dizer não a censura. Vida longa à liberdade de expressão!’’, disse ao receber o prêmio.

Outro projeto brasileiro na mostra dedicada a filmes em realidade virtual, A Linha, levou prêmio de Melhor Experiência Interativa no Festival de Veneza.

No filme, que dura 13 minutos, Rodrigo Santoro narra a história de um menino tímido que se apaixona por uma jovem na São Paulo dos anos 1940. O espectador participa do filme ajudando-o a escolher caminhos e a entregar uma delicada flor à moça. “Nestas duas últimas semanas, vimos o quão melhores podemos ser vendo filmes em realidade virtual”, disse o diretor Laganaro, saudando a iniciativa de Veneza em ter uma mostra específica para o formato.

Por fim, a crítica internacional não deixou passar despercebido. Mais uma vez, reclamou-se da falta de preocupação com temas como empoderamento feminino e personagens LGBT+. Em geral, os protagonistas eram homens brancos e heterossexuais. Somente duas diretoras mulheres concorreram, Shannon Murphy, com a comédia Babyteeth, e Haifaa Al-Mansour com The Perfect Candidate.

Abaixo a lista dos Ganhadores:

– Leão de Ouro de melhor filme: Coringa, do americano Todd Phillips
– Grande Prêmio do Júri: o cineasta franco-polonês Roman Polanski, por J’accuse
– Leão de Prata de melhor direção: o sueco Roy Andersson, por About Endlessness
– Prêmio Especial do Júri: La mafia non è più quella di una volta, do italiano Franco Maresco
– Copa Volpi de melhor ator: o italiano Luca Marinelli, por Martin Eden
– Copa Volpi de melhor atriz: A francesa Ariane Ascaride, por Gloria Mundi
– Prêmio de melhor roteiro: No. 7 Cherry Lane, de Yonfan, de Hong Kong
– Prêmio Marcello Mastroianni de melhor ator ou atriz: o australiano Toby Wallace, por Babyteeth
– Leão de Ouro pelo conjunto da obra: para o diretor espanhol Pedro Almodóvar e a atriz britânica Julie Andrews

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