As lições do Castelo Rá-Tim-Bum para uma sociedade mais justa

Em comemoração aos 25 anos, a adaptação para o formato de teatro musical apresentou curta temporada no Theatro Net. Últimas apresentações acontecem em 22 de setembro

Depois do grande sucesso em 2017, o espetáculo Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical ganhou nova temporada no Theatro Net. A produção comemora 25 anos da estreia do programa na TV e encerra o período de apresentações neste final de semana, no dia 22 de setembro (domingo).

O Castelo Rá-Tim-Bum é um lugar mágico, no meio da cidade de São Paulo. Lá vivem Nino, um garoto de 300 anos, seu tio Dr. Victor, um cientista e feiticeiro, e sua tia-avó Morgana, uma feiticeira de 6.000 anos. O lugar também é habitado por seres como o Gato Pintado, o bibliotecário, a cobra Celeste, que sonha em ter braços e pernas, os passarinhos músicos, as fadas Lana e Lara, os cientistas Tíbio e Perônio, entre outros.

No elenco também estão personagens como Pedro, Biba e Zeca, três crianças que visitam Nino diariamente para brincar com ele; a jornalista Penélope; Bongô, o entregador de pizza; o visitante interplanetário Etevaldo; Caipora, a defensora das matas; e o vilão Dr. Abobrinha, um especulador imobiliário que sonha em derrubar o castelo para construir um prédio de 100 andares.

A série televisiva transmite diversas mensagens importantes para a formação das crianças, bem como para o desenvolvimento da criatividade, do lado inventivo, do respeito à natureza e às diferenças. Ela incentiva a leitura e a arte, fala sobre hábitos de higiene, aborda questões sociais e contribui para a construção de um pensamento crítico.

Castelo Rá-Tim-Bum é considerado um das principais produções educativas da história da TV brasileira,  representa o maior orçamento de um programa TV Cultura, teve uma das maiores audiências de todos os tempos da emissora e integra a franquia da qual fazem parte a Ilha Rá-Tim-Bum e Rá-Tim-Bum. Todos os programas foram disponibilizados no Youtube.

“Eu lembro de fazer várias experiências científicas do quadro do Tíbio e Perônio. Aprendi sobre a importância de preservar a natureza e os recursos naturais e sobre os perigos do bullying. Ver como eles aceitavam as diferenças me ajudou a entender que não precisamos ter medo do que é diferente e que a diversidade é importante. Castelo Rá-Tim-Bum é um dos melhores programas da vida”, afirma o comunicador Lucas Daniel.

Uma das temáticas de maior destaque da série, é a questão da especulação imobiliária. Dr. Abobrinha tenta  comprar o castelo a qualquer custo para, no lugar, construir um prédio. Em um episódio, quando as crianças constroem uma maquete do modelo ideal de cidade, com lagos limpos e ruas arborizadas, o especulador aparece, destrói o projeto e coloca edifícios e derruba as árvores. O programa critica o crescimento desordenado das cidades, a desvalorização de construções históricas em nome do “progresso”, a destruição da natureza e a poluição das cidades.

A mensagem de preservação da natureza é um dos destaques do programa. “A abordagem ambiental é muito expressiva, porque usa uma linguagem que consegue chamar a atenção das crianças de uma forma singular. As atuações são esplêndidas, com destaques para a Caipora, uma personagem muito simbólica culturalmente e ao mesmo tempo marcante, com todas as suas onomatopeias, explicações e histórias da mata. Conhecer o ambiente é essencial para compreender que há uma interdependência entre tudo o que ali existe, e a mensagem do programa passa isso de uma forma bem sensorial, com vivências, por meio de convites para imitar animais, por exemplo, histórias e explicações rápidas. O programa consegue atingir a criança de diversas maneiras para produzir uma maior conscientização sobre a preservação dos recursos naturais”, comenta a especialista em educação, Janaína Spolidorio.

A presença da Caipora no programa, além de abordar questões relativas ao meio ambiente e aos povos indígenas, também ressalta a valorização do folclore brasileiro. “Refleti muito sobre essa a questão. Quando eu era criança eu gostava de Halloween, mas nunca deixei de gostar de nosso folclore. Os dois eram valorizados por mim, de formas diferentes. A desvalorização ocorre por conta da própria sociedade. Se os personagens ficam menos em destaque do que os de outras comemorações, é porque nós mesmos não os valorizamos. É preciso que percebamos a importância de sua preservação como identidade cultural. A desvalorização cabe a um conjunto muito maior de fatores, a maioria deles ligados à sociedade que temos atualmente, inclusive em relação à mudança de valores humanos”, conclui Janaína. 

O conhecimento científico também tem . Os gêmeos Tíbio e Perônio, que são nomes de ossos, falam sobre ciências de modo que os espectadores percebam que ela está presente no dia a dia. “A Ciência, no jornalismo, tem um viés de seriedade, ligada ao universo do adulto, além de mostrar somente os resultados das pesquisas. Na obra, a abordagem do tema a aproxima do público infantil, de forma leve e divertida, inclusive retratando a possibilidade de erros. Os irmãos se corrigem, estudam, observam, comparam, fazem anotações e se questionam sobre os estudos que realizam, trazendo semelhanças das pesquisas científicas. Chama minha atenção como eles mesmos são amostras de estudos para falar de olfato, audição, articulações, tato, batimentos cardíacos, entre outros.  Eles não usavam ilustrações, animações ou imagens e sim os próprios corpos para fazer as demonstrações”, afirma Adriana Roma, comunicadora que desenvolveu uma tese de mestrado sobre o quadro dos irmãos.

O incentivo à leitura como forma de entretenimento e de expandir conhecimentos também merece atenção especial. O Gato Pintado, bibliotecário do castelo, é um personagem que sempre tem uma boa história para contar e ele mostra como os livros são importantes no aprendizado. “O gato é a referência para quando têm uma dúvida no castelo. Ele ajuda Nino e as crianças a resolverem lições, conta histórias e conhece muito bem o conteúdo dos livros. Percebe-se claramente que a referência dele são os livros, ele vive no meio deles! É uma abordagem bem imersiva e que consegue passar às crianças a mensagem de que a leitura pode dar respostas para suas perguntas e, além disso, conhecer histórias e poemas de grande qualidade, que ampliam  conhecimentos culturais dos telespectadores”, comenta a pedagoga Claudia Aloia.

Uma mensagem do programa continua atual nos dias de hoje e cada vez mais necessária: a aceitação das diferenças. O castelo tinha personagens negros, mas a produção retratou o preconceito sem diminuir qualquer etnia. Em um episódio, o tema é abordado com uma personagem azul, a Zula que aparece para visitar o castelo. Um dos principais exemplos dessa abordagem, é o personagem Etevaldo, um extraterrestre que frequenta o castelo para brincar com as crianças. “O mais legal do programa é que ele explora as diferenças mostrando o que esses personagens tem de fantástico, sem representar uma etnia ou cor de pele. Ao agregar personagens tão diferentes, como o Etevaldo, como amigo das crianças e que traz novos conhecimentos a eles, o programa mostra como todos podem ensinar algo sempre”, completa Cláudia. “O Castelo Rá-Tim-bum marcou uma geração, faz parte da cultura audiovisual do nosso País e colaborou muito para formação socioambiental de crianças e jovens. Uma série riquíssima para o desenvolvimento infantil, pois busca responder questionamentos curiosos de forma divertida e com muita informação”, finaliza.

Serviço:

Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical
Onde: Theatro Net (Rua Olimpíadas, 360 – Itaim Bibi / Shopping Vila Olímpia)
Quando: até 22 de setembro (sexta, às 20h / Sábado às 16h e 20h / Domingo às 16h)
Quanto: de R$ 25 a R$ 60
Informações: http://www.theatronetsaopaulo.com.br