Um dos principais objetivos da tecnologia é tornar a vida das pessoas mais “fácil” e prática e, à medida que ela avança, é quase impossível voltar para trás. No mercado fonográfico não foi (e não é) diferente! O surgimento de novas tecnologias, a expansão da banda larga e das áreas de cobertura das redes 3G e 4G, bem como o acesso “facilitado” aos smartphones, possibilitou a criação das plataformas de streaming de música. Esta, atualmente, é a principal forma utilizada pelas pessoas para ouvir seu artista favorito e conhecer novos cantores.

Em um passado (bastante) recente o surgimento dos Torrents já representou um grande avanço, mas essa solução demorava muito para carregar e ocupava demasiadamente a memória dos dispositivos. Isso foi solucionado pelo surgimento das nuvens, pois elas permitem ter um número maior de arquivos e ocupar o mínimo espaço possível. Esse foi um grande avanço, principalmente para as pessoas que cresceram em uma época que era necessário esperar a música desejada tocar no rádio para gravá-la em uma fita K7, ou que precisavam comprar um LP de um cantor, mesmo que o interesse fosse em apenas uma faixa musical e não no trabalho completo.

“O advento dos streamings democratizou o acesso da população à música e permite que o usuário tenha acesso a uma biblioteca de canções que um celular não teria capacidade de abrigar. Elas podem ouvir o que e quando quiserem. Dá uma sensação de poder de consumo para o usuário”, afirma Thiago Valadares, especialista em comportamento digital da Seven Grupo Digital.

De acordo com levantamento da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), que representa 1.300 gravadoras no mundo, o Brasil tem o segundo maior índice de consumidores que ouvem música pelo smartphone. 92% dos brasileiros entrevistados afirmaram que esse é o principal meio utilizado. Desse total, 77% usam os streamings, o que nos coloca em terceiro lugar entre os países que mais utilizam as plataformas. A pesquisa aponta que, globalmente, a média de tempo de consumo musical por esses meios é de 2,5 horas por dia.

Além do Brasil, outros 19 países participaram do estudo. Em cada região, de 1.000 a 2.000 pessoas foram ouvidas. Juntos, os 20 países que integram a pesquisa correspondem a 91,3% da receita global do mercado fonográfico. Para visualizar o levantamento completo, clique aqui.

O avanço da tecnologia também é positivo para novos artistas, que antigamente precisavam batalhar muito mais para que o trabalho fosse reconhecido por grandes produtoras ou que dependiam de altos investimentos para produzir um disco. “Com os streamings, surgiram diversas gravadoras independentes. Inclusive já existem aplicativos para gravar e produzir uma música e isso facilitou muito para a nova geração mostrar seu trabalho. Os artistas precisam entender e se adaptar a esse novo cenário”, comenta Pedro XFour, DJ e produtor musical.

A forma como a música é produzida também mudou bastante. Antigamente havia uma preocupação de que um disco contasse uma história e hoje em dia toda a narrativa precisa ser contada em uma única composição. Toda canção passou a ser o que era chamado de “música de trabalho”, pois ao esperar um período muito longo para lançar um trabalho, que era o tempo para a produção de um CD, aparece um novo hit que pode tirar o destaque do cantor no mercado. Hoje, mais do que nunca, as músicas são lançadas para “fidelizar” os fãs e garantir público nos shows, que ainda é a maior fonte de receita dos artistas.

“Não tem sentido investir nesse tipo de trabalho, com 12 ou 14 faixas, porque acaba envelhecendo. Pode queimar músicas muito boas porque lançou tudo em um disco, foi consumido e o público já quer coisa nova. O trabalho fica velho. O sensato é lançar duas ou três faixas nas redes sociais, fazer o trabalho com a estratégia de divulgação do artista ou do seu escritório. Não me cabe julgar se esse modelo é melhor ou pior, vai da opinião de cada um”, comenta o produtor musical Luiz Carlos Maluly, responsável pela divisão artistas e repertório de Sociedade Brasileira de Autores Compositores e Escritores de Músicas (SBACEM).

Para Axel, cantor português e gestor de artistas e repertório, é necessário pensamento estratégico, apostar nas performances e reconhecer a importância da publicidade como ingrediente de sucesso. “Hoje precisa produzir mais rápido e as gravadoras também precisam se adaptar a esse cenário. Muitos artistas precisaram ceder a esse novo modelo, como o caso da cantora Taylor Swift que até um tempo atrás não liberava suas músicas para os streamings e depois precisou ceder ao mercado. É necessário se reinventar!”, afirma.

Max Pierre, diretor artístico da SBACEM, afirma que o grande desafio dos profissionais envolvidos na produção de música é como sobreviver profissionalmente, gravando apenas um single a cada dois ou três meses. “Depois de décadas participando de uma indústria bastante ativa, esse é um grande desafio que tenho também. Quero usar toda a minha experiência para assessorar os artistas e compositores, quando necessitarem, seja na escolha de repertório, dos músicos (independentes ou recém contratados das gravadoras) e estúdio para gravarem um novo trabalho. Quero dar um atendimento personalizado aos nossos associados, orientar os novos autores e trazer novamente as obras clássicas”, comenta.

Porém, não se pode desprezar a importância de meios tradicionais, como o rádio. Ele continua com papel fundamental na curadoria dos artistas que têm maior apelo para o público. O levantamento da IFPI também aponta que, globalmente, 86% das pessoas ainda ouvem música pelo rádio, com média de 4,4 horas semanais. No Brasil, esse número representa 89% dos consumidores.

E se você acha que, nesse ponto, a tecnologia não tem mais para onde evoluir, especialistas já vislumbram um futuro com novidades. “Chegamos a um ponto que poucos imaginavam há poucos anos. Hoje em dia não é necessário um equipamento adicional, como na fase dos aparelhos de MP3. Os streamings são uma solução consolidada e quando essa tecnologia estiver maturada e oferecer a estrutura para uma nova ascensão, isso ocorrerá. Logo será possível uma interação mais plena com o fone de ouvido ou consumir música pelos smartwatch, por exemplo”, finaliza Arthur Igreja, professor da FGV e especialista em Tecnologia e Inovação.

Esses avanços, em geral, representam um investimento muito maior no Brasil do que na maior parte dos países. Ou seja, vamos preparar o bolso para as novas tecnologias.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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