A cantora Glória Groove lançou recentemente seu mais novo single, “Coisa Boa”. Para ela, a música veio em um momento no qual é necessário buscar boas vibrações e afirma que “existe um lugar onde a luta e o fervo se encontram”. Nesse trabalho, o ponto de convergência é a união do funk a um discurso de força.

O clipe dirigido por Felipe Sassi, tem a participação de Wanessa Camargo e Lia Clark e, como era de se esperar, Glória impressiona com sua performance, looks e make. A produção tem como cenário um presídio e manda um recado: se mexer comigo, vai mexer com a tropa toda. Este ano ela tem mais uma novidade para os fãs, sua estreia no carnaval Paulistano no comando de bloco “Gloriosa”.

Confiram a conversa do Matraca Cultural com a cantora.

Matraca Cultural: Qual a principal mensagem que você quer passar com a letra e com o clipe de Coisa Boa?
Glória Groove: Queríamos passar uma mensagem de resistência, sem perder a sensação de fervo. Esse foi o fio condutor do projeto, tanto na produção da faixa com os Dogz quanto na concepção do vídeo com Felipe Sassi.

MC: Em um trecho, a música diz “Se mexer comigo, vai mexer com a tropa toda” e o clipe tem a participação da Lia Clark e da Wanessa Camargo. A ideia era mostrar essa união da comunidade LGBTQ+ e dos simpatizantes?
GG: Bom, apesar de não acreditar em “simpatizantes” e sim em aliados (risos), sem dúvidas este trecho incita a união que temos – ou que pelo menos deveríamos ter – enquanto comunidade.

MC: Em outra parte a letra diz “Tu achou que nós ia sumir? Achou que nós não ia nem vir? O mundo se acabando, nós tumultuando. Mandando em tudo por aqui”. Neste trecho você usa a licença poética para “se manifestar”
em relação ao atual momento de repressão e perseguição que a comunidade sofre?
GG: Sim, isso mesmo! Se tenho a chance de utilizar minha música como amplificador de um discurso, por quê não fazê-lo?

MC: Você acha que a resistência e luta LGBTQ+ podem ser transmitidos com a alegria e fervo característicos da comunidade?
GG: Acredito plenamente que existe um lugar onde a resistência e a celebração se fundem. Ser uma drag queen conversa diretamente com esse “quê” de fantasia que existe em um ser marginalizado. Fervo é luta sim.

MC: Qual a importância do sucesso de artistas como você, a Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e Lia Clark entre outras para a cultura drag? E qual a importância da representatividade, na sociedade machista e homofóbica que vivemos, para diversxs jovens que desde cedo se identificam com essa manifestação artística?
GG: Os efeitos desse levante do movimento drag existe em tantos níveis que ainda vai levar um tempo até que se tenha real dimensão. Acredito muito no resultado a longo prazo, quando os jovens que são nossos fãs e admiradores de hoje serão os gestores e criadores de amanhã.

MC: Como foi o processo para você se aceitar como artista drag? Como você lidou com isso na família? Você enfrentou muito preconceito de produtores e do mercado fonográfico até alcançar o sucesso que você tem hoje?
GG: Eu tinha quase 18 anos e já trabalhava desde criança, então estabeleci desde o princípio que não deixaria impressões da minha família abalarem meu sonho. O preconceito e a discriminação são estruturais em todo e qualquer espaço, mas sinto que minha forma de driblar sempre foi o talento e, atualmente, o trabalho árduo e bem pensado.

MC: Este ano vai ser a sua estreia no carnaval com o bloco das Gloriosas pelas ruas de São Paulo. Como está a sua preparação e o que os seus fãs e foliões podem esperar?
GG: Meu coração não aguenta de ansiedade por esse dia! Muita música boa, participações e muita celebração ao orgulho. Sou uma amante do carnaval de rua e estar encabeçando um trio não é brincadeira. É um sonho que se torna realidade.

MC: O bloco vai ser uma pausa na militância e resistência para dar lugar à alegria do carnaval, ou é o momento no qual tudo isso se encontra? Você acha que o carnaval também cumpre o papel político de trazer lutas e questões importantes para a sociedade?
GG: Sem dúvidas o carnaval é também uma plataforma de resistência e um dos momentos mais dignos da apreciação à vida e os direitos dos LGBTQ+ que há tantas décadas edificam e abrilhantam a festa. Principalmente no atual cenário, acredito que o Bloco das Gloriosas seja um símbolo de resistência.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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