Foto: Priscila Prade

Fontes: Assessorias Flavia Fusco e Pombo Correio

Mestre da música popular brasileira, o saudoso sanfoneiro pernambucano Dominguinhos (1941-2013) é homenageado no musical Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais, que estreou em São Paulo em 2022 e agora volta à capital para marcar os 10 anos sem o compositor com uma curta temporada no Teatro Bravos, entre os dias 7 de setembro e 1º de outubro.

O espetáculo foi idealizado pelo diretor Gabriel Fontes Paiva e pela diretora musical Myriam Taubkin, parceiros no Projeto Memória Brasileira, que documenta a memória viva da música brasileira há 35 anos. Já o texto foi criado pela premiada dramaturga e jornalista Silvia Gomez e traz de forma contemporânea toda emoção daquele que acabou se consolidando não somente como o mestre do forró, mas com uma carreira musical própria englobando diversos gêneros como o jazz, o pop e a MPB.

O musical tem construído uma carreira de sucesso. Foram mais de 25 mil espectadores em 50 apresentações que lotaram teatros em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. Após essa nova temporada no Teatro Bravos, a peça segue para uma turnê no Nordeste.

Para fazer jus a sua amplitude musical, a maioria do elenco veio do universo da música, como é o caso de Liv Moraes, cantora, parceira e filha de Dominguinhos; Cosme Vieira, que tocou sanfona com Dominguinhos quando ainda era criança; o ator e músico Wilson Feitosa; o compositor e arranjador Zé Pitoco, de Cupira (PE), que acompanhou Dominguinhos em inúmeros shows ao longo se sua carreira; Fitti, um dos grandes expoentes da nova safra de atores e cantores brasileiros e os conhecidos internacionalmente  Hugo Linns,músico que éreferência brasileira em viola eo percussionista Jam da Silva, os três últimos de Recife (PE).

“Quando Dominguinhos faleceu foi um momento difícil, porque o acompanhamos de perto. Myriam era uma grande amiga dele, de longa data, tendo realizado inúmeros shows com a sua participação. Dominguinhos era muito querido e sempre foi uma delícia trabalhar com ele. Pouco depois da sua morte, sugeri criar um musical sobre a vida e obra desse gênio. Foram 7 anos elaborando, negociando direitos autorais e viabilizando o espetáculo. E hoje eu entendo que conseguimos construir o projeto ideal com dezenas de outras pessoas que compreendem, respiram e vivem neste universo”, revela Paiva.

“Mergulhar na vida e na obra de Dominguinhos foi uma bênção. É o primeiro projeto do gênero musical que realizamos, Gabriel e eu. Conseguimos entrelaçar o melhor de cada um, nesse nosso ofício: o teatro – no caso dele – e a música, no meu. Ainda mais sendo um musical sobre Dominguinhos, que conheci tão de perto e de cuja obra tenho tanta intimidade”, conta Taubkin

Sobre o processo de construção da dramaturgia, Silvia Gomez conta que o texto foi escrito ao longo de dois anos a partir de entrevistas com pessoas que conviveram com Dominguinhos, como Anastácia, Liv Moraes, além dos próprios Gabriel Fontes Paiva e Myriam Taubkin. Além disso, o jornalista especializado em música Lucas Nobile assina a pesquisa documental que apoiou a escrita dramatúrgica.

“Lucas trouxe um material vasto de linha do tempo, músicas, motivações, notícias e casos da vida desse mestre. O mergulho na obra incluiu programas, documentários, entrevistas e reportagens de jornais e revistas de época, além de livros como O Brasil da Sanfona, de Myriam Taubkin. Nos baseamos em fatos reais e depoimentos públicos de Dominguinhos, sem, no entanto, deixar de dialogar poeticamente com essa realidade, ficcionalizando certas passagens que envolvem as personagens evocadas”, comenta a autora.

Muito mais do que contar de forma linear e cronológica a vida de Dominguinhos, a dramaturgia explora essa combinação entre o documental e o poético. “Há um certo lugar delirante em minhas dramaturgias e, aqui, pude expressá-lo no recorte escolhido como procedimento narrativo: em seu último momento de vida, Dominguinhos é visitado pelas histórias, pessoas – e sanfonas – que marcaram sua carreira, como se tudo se passasse numa fração de segundo infinita do pensamento e da memória. Também sou jornalista, e, pela primeira vez, pude combinar em uma peça teatral a minha formação híbrida, entre a dramaturgia e o documento. Ou melhor, pude buscar a vocação narrativa dessa vida e dessa obra tão importantes para a nossa formação cultural e afetiva”, acrescenta.

Já a encenação parte de um jogo entre os atores e músicos, que se alternam nos papéis de Dominguinhos e das pessoas que fizeram parte da vida dele. “Este jogo tem tudo a ver com a trajetória de Dominguinhos e com a obra dele. Um homem que viveu para trazer alegria para as pessoas e que conseguia contar, inclusive coisas tristes, de uma forma alegre. A encenação parte desta brincadeira com a plateia para que a gente possa transmitir a energia que ele conseguia levar a todos nós. Quem viu Dominguinhos tocar ao vivo sabe do que estou falando e é isso que vamos tentar reproduzir”, explica Gabriel Fontes Paiva.

Ainda sobre a direção, Paiva conta que buscou resgatar como grandes referências para a montagem elementos importantes para o sanfoneiro, como a cidade de Garanhuns, em Pernambuco, onde Dominguinhos nasceu, e os ritmos e danças como forró, baião e xaxado.

“Dominguinhos foi um artista universal, que extrapolou suas raízes”, diz Myriam Taubkin, diretora musical do espetáculo. “Suas composições são cantadas e tocadas em todo o mundo e sua sanfona é reverenciada por músicos de todos os cantos. Talvez ele seja o músico que mais influenciou acordeonistas no Brasil e no exterior, seja como exímio instrumentista, seja como compositor. Achei importante trazer esta riqueza ao público, de como Dominguinhos trafegou por tantos gêneros musicais, da enorme facilidade que ele tinha para compor, não só ritmos do Nordeste, mas também inúmeros choros, samba – canções, músicas instrumentais de todos os tipos. O musical traz os clássicos de Dominguinhos, mas também canções que o público não conhece, assim como seus temas instrumentais. Mesmo as vinhetas criadas no musical saíram de suas composições. Com este time de craques no elenco, procuramos apresentar tanto o forró pé de serra tradicional, que Dominguinhos tanto amava, como criações originais para suas composições, utilizando a sonoridade da viola dinâmica nordestina, percussões eletrônicas, sopros, vozes.”

Um pouquinho sobre Dominguinhos

Dominguinhos conseguiu unir o regional de um Brasil profundo com o que havia de mais moderno na música. Foi um artista que cantou a experiência humana em sua essência mais luminosa, sempre com leveza, humor, alegria e poesia.

Nascido em Garanhuns (PE), em 1941, José Domingos de Moraes iniciou a carreira ainda na infância. Aos oito anos, se apresentou para Luiz Gonzaga em um hotel de sua cidade natal, sem saber que tocava para o Rei do Baião. E, aos 13 anos, deixou seu estado com a família para tentar a sorte no Rio de Janeiro.

Em mais de 55 anos de carreira, Dominguinhos gravou 40 discos. No último desses trabalhos, Iluminado Dominguinhos,lançado em DVD em 2010, gravou grande parte de seu repertório instrumental com a participação de Gilberto Gil, Elba Ramalho, Wagner Tiso e Yamandu Costa, entre outros.

Suas músicas mais conhecidas são “Eu Só Quero um Xodó” e “Tenho Sede” (parcerias com Anastácia), cujos registros mais famosos foram feitos por Gil na década de 1970, “Isso Aqui Tá Bom Demais” e “De Volta pro Aconchego” (com Nando Cordel), clássico na voz de Elba Ramalho, nos anos 1980, “Abri a Porta” e “Lamento Sertanejo” (com Gilberto GIl).

“De Volta pro Aconchego” e “Isso Aqui Tá Bom Demais” fizeram parte da trilha da novela “Roque Santeiro”, aumentando a popularidade do artista nos anos 1980. Na mesma década, Chico Buarque gravou “Tantas Palavras”.

Dominguinhos também venceu o Grammy Latino duas vezes (em 2002 e 2012); o Prêmio Tim de Música Brasileira duas vezes (em 2007 e 2008) e o Prêmio Shell de Música (2010).

Embora morasse em São Paulo, ele sempre voltou ao Nordeste, desde as primeiras turnês com seus trios no início de carreira; nos muitos anos em que acompanhou Gonzagão; e ao lado de Anastácia. E, nunca deixou de se apresentar nas tradicionais festas juninas de Campina Grande (PB); Caruaru (PE); Feira de Santana (BA), entre muitas outras cidades. Adorava Fortaleza, onde fez inúmeros amigos e onde ia descansar de seus compromissos. Sempre elogiava o povo cearense, como trabalhador e hospitaleiro. Dominguinhos negava a maneira como sua região, o Nordeste, era tratada – pela ótica da miséria, da seca, da falta de esperança.

Dominguinhos faleceu no dia 23 de julho de 2013, depois de uma longa luta contra um câncer de pulmão, deixando um legado inestimável de valorização da música popular e da cultura nordestina.

Sinopse

O musical conta passagens da vida e da obra de Dominguinhos misturando documento e ficção. O artista relembra sua trajetória através de fatos, músicas e parcerias profissionais e afetivas, enquanto conversa com sua maior e fiel companheira, a Sanfona.

Liv Moraes é cantora e filha de Dominguinhos e ingressou profissionalmente na música aos 18 anos como backing vocal da banda de seu pai, percorrendo o Brasil por vários anos realizando shows. Em 2002, fez sua primeira participação gravando a música “Desenho”, no CD “Lembrando de Você”, de Dominguinhos. Convidada por Toninho Horta, interpretou “Amar como te amo” no CD “Com o pé no forró”, que foi indicado ao Grammy Latino. Cantou com grandes nomes da música brasileira, como Gilberto Gil, Elba Ramalho, Jane Duboc, Yamandu Costa, Fábio Júnior, Lenine, Fagner, Toninho Horta e Maestro Spok.

Cosme Vieira tem uma trajetória parecida com o próprio homenageado. Ambos iniciaram a carreira de sanfoneiros ainda crianças e, antes de completarem 10 anos, tocaram para ícones que foram seus padrinhos. No caso de Dominguinhos, ele tocou para o grande Luiz Gonzaga, que já era conhecido como o Rei do Baião, embora o menino não soubesse disso. Já Cosme teve como mestre o próprio Dominguinhos. Atualmente, Cosme toca por todo Brasil acompanhando grandes nomes da música como Ivete Sangalo, Duani, Zeca Baleiro, Mariana Aydar, Liv Moraes, Cláudia Leite, Toninho Horta e outros.

Zé Pitoco, com forte atuação na cena musical, é um grande representante da música regional nordestina em São Paulo. Transitando entre o clarinete, o saxofone e a zabumba, esse multi instrumentista e arranjador pernambucano expressa na música o cotidiano de um nordestino que vive na capital paulista. Tocou com grandes nomes, entre eles o próprio Dominguinhos, com quem fez inúmeros shows. Atualmente integra o grupo de Antônio Nóbrega, sendo um de seus principais componentes e arranjadores. Foi integrante da Orquestra Popular de Câmara, ao lado de Benjamim Taubkin, Teco Cardoso, Mané Silveira, Guelo, Caíto Marcondes e Monica Salmaso.

Hugo Linns é violeiro, baixista, arranjador, compositor e diretor musical. Toca e compõe em viola dinâmica de 10 cordas desde os 18 anos, em sua terra natal, Recife. Linns tem cinco álbuns lançados com renomados artistas brasileiros e internacionais, como o percussionista sueco Sebastian Notini e o violoncelista francês Olivier Koundouno, lançado pelo selo alemão Martin Hossbach. Em 2018 foi vencedor do 9º Prêmio da Música de Pernambuco como melhor álbum de música instrumental.

Jam da Silva é percussionista, natural de Recife. Traz uma abordagem inovadora em suas produções, uma mistura de artesanato com invenção. Parte de suas criações vêm da rua, com ruídos e ambientações urbanas e parte vem de sua construção musical, com diversos instrumentos de percussão. Seu trabalho faz com que possua grandes parcerias com artistas nacionais e internacionais como Massilia Sound System, Moussu T et les jovents, Troublemakers, Camille e Sebastien Martel, Marisa Monte, Elba Ramalho, Roberta Sá e muitos outros. Foi vencedor de melhor trilha sonora em 2011 com o filme Os Narradores de Javé.

Fitti, fruto de Recife, é multiartista e estreou recentemente no elenco da série original da Netflix, “Só Se For Por Amor”. Aos 14 anos, viralizou na internet com um vídeo interpretando Sozinho, de Peninha. Desde então, abriu shows de grandes nomes como João Bosco, Zé Renato e Guilherme Arantes, sendo hoje um dos grandes expoentes da nova safra de atores e cantores brasileiros.

Wilson Feitosa é ator e professor de música formado em Licenciatura Plena. Sua carreira artística possui trabalhos como “Os Sertões” no Teatro Oficina e “Mãe Coragem”, com Bete Coelho. Com música e teatro, participou de diversos festivais pelo Brasil e pelo mundo e traz mais de vinte peças teatrais, filmes e séries em seu currículo. Toca acordeão, violão, cavaquinho e percussão.

Ficha Técnica

Dramaturgia: Silvia Gomez
Direção: Gabriel Fontes Paiva
Direção musical: Myriam Taubkin

Elenco:
Liv Moraes
Fitti

Cosme Vieira
Hugo Linns
Jam da Silva
Wilson Feitosa
Zé Pitoco

Desenho de Movimento: Ana Paula Lopez
Desenho de Luz: André Prado e Gabriel Fontes Paiva
Figurino: Ana Luiza Fay
Cenário: Gabriel Fontes Paiva
Pesquisa documental e consultoria de repertório: Lucas Nobile
Preparação vocal: Ana Luiza
Assistente de direção: Ana Paula Lopez e André Prado
Assistente de direção musical: Hugo Linns
Coordenação técnica: André Prado
Desenho de som e operação: André Omote
Assistente de som: Gustavo Magrão
Direção de Palco: Dani Colazante

Montagem e operação: Cassio Omae
Camareiro: Jô Nascimento
Design gráfico: Teresa Maita
Fotografia de estúdio e cena: Priscilla Prade
Social mídia: Daniela Stirbulov
Gestão de Projeto: Luana Gorayeb
Assistentes administrativos financeiros: Beth Vieira e Rogério Prudêncio

Assistente de produção: Dairzey Abnara

Produção executiva: Camila Scheffer
Direção de produção: Dani Angelotti
Realização: Fontes Artes e Projeto Memória Brasileira

Serviço

Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais

Temporada: 7 de setembro a 1º de outubro

De quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h

Teatro Bravos – Rua Coropé, 88, Pinheiros

Ingressos:

Plateia Premium – R$ 100        

Plateia Inferior: R$ 100        

Ingresso Popular – Balcão: R$ 50

Vendas onlinehttps://bileto.sympla.com.br/event/85114

Bilheteria: De terça à domingo das 13h às 19h ou até o início do último espetáculo. Formas de Pagamentos aceitas na bilheteria: Todos os cartões de crédito, débito e dinheiro. Não aceita cheques.

Classificação: 12 anos
Duração: 110 minutos

Capacidade: 611 lugares

Acessibilidade: Teatro acessível para PNE.

Sessão com interprete de libras toda sexta-feira.

Livreto em Braile disponível em todos os espetáculos

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