Vivemos uma era muito interessante em que a arte contemporânea ganha cada vez mais espaço e ressignificação com uma conexão cada vez mais forte com a tecnologia. Afinal, uma das características mais latentes de um artista contemporâneo é se arriscar em inovar suas técnicas, quando o processo e a reflexão sobre ele ganham tanta importância quanto o objetivo final.

Todos esses aspectos e experimentações de cultura tem aberto uma oportunidade gigante para o universo musical. Uma nova linguagem tem ganhado popularidade ao conseguir reinventar a forma como essa arte é consumida em espaços outrora destinados apenas ao entretenimento: a visual music.

Artistas audiovisuais criaram e aperfeiçoaram técnicas que possibilitam que a visão potencialize a experiência sonora por meio de um cruzamento de linguagens dentro do campo expandido e ilimitado da tech art. Esse formato de apresentação é chamado de Live AV, o qual na performance o artista opera imagem e som em tempo real.

Veja que não estamos aqui nos referindo aos videoclipes, uma interpretação equivocada da visual music em tempos de YouTube. São composições visuais realizadas ao vivo de forma digital ou analógica numa forma de ampliar, traduzir e se conectar com sons e música. Podemos interpretar como um resgate do cinema mudo, com a orquestra acompanhando o filme, com a diferença que, atualmente, as imagens também são produzidas em tempo real.

São imagens captadas do mundo real, ilustrações abstratas ou até mesmo uma visita sensorial ao metaverso. E essa nova manifestação tem atraído artistas que, antes, se dedicavam apenas à música ou ao visual, como DJs e videomakers, em busca de uma abordagem ainda mais artística de seu trabalho.

Cada vez mais esses artistas têm ganhado espaço para apresentar seu trabalho no Brasil, por enquanto ainda apenas em metrópoles como São Paulo, onde é realizado um dos festivais de tech art pioneiros em dar protagonismo à visual music, o Canvas Audiovisuais. No dia 19, um evento especial paralelo ao festival chamado Canvas Lives leva performances de visual music ao Cineclube Cortina criando uma oportunidade de uma imersão nessa arte.

Alguns críticos e pensadores do mundo das belas artes que têm resistência em aceitar a presença da tecnologia, consequentemente, acabam criando barreiras para que a tech art e a visual music ocupe o seu espaço e que seus artistas tenham o reconhecimento de seu talento. Contudo, este caminho já começou a ser pavimentado e não há mais volta.

*Felipe Brait é curador de arte contemporânea, produtor e gestor cultural e estrategista criativo. Desde 2001 trabalha com intervenções urbanas e projetos de investigação e ação sobre o espaço público, onde nasceu seu interesse pela tech art e visual music como expressão, sendo criador é curador do festival Canvas Audiovisuais.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a linha editorial do Matraca Cultural

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Matraca Cultural

Cultura é entretenimento, é reflexão. Ela está presente em todas as nações, nas grandes revoluções, nas periferias e nos momentos de repressão. Ela está na rima do rap, no drama teatral, no movimento da dança, nas vidas da tela do cinema, nos contos fantasiosos de livros e em diversas manifestações humanas. Matraca Cutural é boca aberta para a música, dança, teatro, exposições, cinema e mostras e usa a cultura como vetor de transformação, de respeito às diferenças e importantes reflexões.

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