Em entrevista durante o Conecta+ Música e Mercado, Daniel Neves, presidente da Anafima destaca que a transmissão online fez o setor se reinventar e que já é possível ver luz no fim do túnel 

Até o próximo domingo (7), acontece o Conecta+ Música e Mercado, um dos maiores congressos do segmento musical do país. O evento, realizado pela Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima), é totalmente gratuito e apresenta  painéis com dicas sobre como aproveitar as lives enquanto a pandemia não acaba. O congresso também orienta  a utilização das redes e-commerce para a venda de instrumentos, aborda questões relacionadas a direitos autorais e discute o futuro da música.

Amanhã (6) os destaques da programação são a entrevista com Roberto Frejat e o painel A poesia e o Hip Hop como ferramentas para a ampliação do senso crítico de alunos da periferia de São Paulo, apresentado por Kaneda (Asfixia Social).

Em entrevista para o Matraca Cultural, o presidente da Anafima, Daniel Neves mensurou os danos da pandemia no setor de eventos e música, sinalizou que já há perspectiva de melhora, destacou os ganhos deste período, como a digitalização de aulas de música, a importância das leis emergenciais e como o fantasma da pandemia ainda deve assombrar o setor até o final deste ano.  

Matraca Cultural – Qual foi o impacto da pandemia sobre o setor da música?

Daniel Neves – Foram dois movimentos curiosos… O primeiro deles foi a lamentável quebra do setor de eventos e entretenimento, que foi reduzido quase a zero. Isso deixou a indústria inteira desamparada, com alguns parcos eventos digitais, mas não suficientes para desenvolver ou manter o setor. Por outro lado, o mercado musical amador teve uma vendagem surpreendente. Para se ter uma ideia, os números de 2019 praticamente se mantiveram em 2020 e isso foi uma surpresa, porque esperávamos uma queda de 70%. Isso se deu graças aos amadores, às lives e às pessoas que começaram tocar algum instrumento musical durante a pandemia.

Daniel Neves, presidente da Anafima

Precisamos também falar da PL 5638/2020, que sairá na próxima semana, e trata de ações emergenciais destinadas ao setor de eventos. Ela dará uma sustentação e o impacto será atenuado, a partir de agora, para as empresas que trabalham nesse setor. Mas, claro, só teremos um reflexo positivo a partir da vacinação de maneira mais efetiva.

MC – Muitos professores de música e artistas conseguiram encontrar nos meios online formas de driblar a crise, em se tratando de venda e locação de equipamentos, qual foi o cenário?

DN – O cenário virtual foi o único possível. O que ocorreu foi a virtualização da categoria. Se o streaming já vinha “correndo solto”, a virtualização do ser artista, professor de música ou escola de música se tornou real. Em linhas gerais, podemos dizer que o artista precisou criar seu avatar e sobreviver virtualmente, porque era a única saída. As aulas de música online, especialmente, se tornaram uma realidade. Durante anos o ensino virtual foi menosprezado e agora, por incrível que pareça, um professor de música do interior do Acre pode dar aula de música para um paulista, ensinando ritmos regionais com muita categoria, por exemplo.

MC- Você acha que artistas independentes conseguiram levantar recursos por meio das lives, sem patrocínio ou apoio em divulgação?

DN – Se por um lado a criação do avatar que eu mencionei foi preponderante para a sobrevivência artística da imagem de muitos ou do ganha pão das aulas, muitos artistas independentes conseguiram se manter presentes para o público, mas não tiveram rentabilização da sua presença digital. Os poucos que tiveram, fizeram um trabalho de base muito bem feito e já tinham um público digital antes da pandemia. A criação desse público durante o isolamento social foi algo raro. As lives serviram muito mais para manter a poética crescida do que gerar remuneração.

MC – A Lei Aldir Blanc está ajudando o setor? Está havendo/houve algum entrave para o recebimento do recurso?

DN – Foi fundamental para o setor. Porém, os municípios e os estados ficaram responsáveis pela divulgação e recolhimento dos projetos e, infelizmente, ocorreram falhas em vários municípios e isso prejudicou a verba que deveria ser irrigada para o setor artístico e cultural. De qualquer maneira, tivemos mais méritos que prejuízos nessa história. Sabendo que era uma lei emergencial e que teria uma burocracia inevitável, ela foi benéfica, sim.

MC – Já há sinais de alguma melhora no mercado da música?

DN – Com o início da vacinação, agora existe uma luz no fim do túnel e conseguimos enxergar um horizonte um pouco mais transparente. Mas só para o final do ano e, evidentemente, 2022. Por enquanto ainda temos que apostar todas as fichas na diversificação e na rentabilização digital. Quando tão breve o setor de shows e eventos puder retornar, temos que aproveitar esse Brasil grande e desenvolver os projetos que foram criados no ambiente virtual para o ao vivo e fazer com que todos os artistas ganhem dinheiro fazendo o que eles mais amam, que é a música.

MC – Quais as expectativas do setor para 2021 e para o cenário pós-pandemia?

DN – 2021 ainda será um ano mais complicado, principalmente no primeiro semestre, mas o segundo já deve clarificar. Os eventos menores e bares devem ter um pouquinho mais de fluência em breve. Neste momento estamos sofrendo uma rebordosa do final de ano, com vários estados e cidades aplicando restrições sérias, que é desagradável. Porém tudo indica que o segundo semestre será mais para o mercado musical de modo geral.

No pós-pandemia, de acordo com dados do Governo Federal, será investido muito no turismo regional, que é associado às festas e a música será beneficiada. Em 2022 devemos ter um cenário muito promissor para o setor da música e da cultura de modo geral.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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