Produção da 
britânica da Netflix aborda temas reais ajuda no livre debate sobre o tema

 

A série Sex Education, produção original da Netflix, lançada em 11 de janeiro, foi um dos maiores sucessos da plataforma nos primeiros meses deste ano. Embora os números finais não tenham sido divulgados, a estimativa era alcançar 49 milhões de usuários no período de um mês devido ao desempenho na primeira semana.

Com a segunda temporada já confirmada, a trama conta a história de Otis (Asa Butterfield), um jovem reprimido sexualmente que usa os conhecimentos adquiridos pela convivência com sua mãe, Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual, para ajudar seus colegas de escola.

A série chama atenção para um tema bastante atual e, ao mesmo tempo, controverso: a necessidade da educação em sexualidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a sexualidade humana como “parte integral da personalidade de cada um… uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida”.

A Educadora em sexualidade, Lilian Macri, ressalta a importância da abordagem do seriado, pelo fato de trazer muitas questões importantes para o cotidiano. “A trama é muito real. Ela apresenta situações desde as mais simples até as mais complexas. Mostra muitas técnicas utilizadas por profissionais e não fala apenas da relação sexual, mas também da descoberta da sexualidade. É muito boa para os jovens entenderem alguns pontos, mas também é excelente para os pais saberem lidar com a sexualidade dos filhos”, afirma.

Diversas histórias são apresentadas, entre elas a do protagonista, Otis, que tem sua vida reprimida sexualmente desde que viu seu pai em uma relação extraconjugal; Aimee que passa a conhecer seu corpo e áreas de prazer após a masturbação; Lily, que estava tão ansiosa em iniciar sua vida sexual e não consegue ser penetrada; Ruby, que tem fotos íntimas divulgadas para os alunos; e Maeve que faz um aborto após uma gravidez não planejada.

Porém é necessário ressaltar o comportamento nocivo dos pais, representado na série. Jean, mãe do protagonista, precisa entender o limite entre conversar com o filho sem agir como terapeuta do jovem; Mr. Groff, diretor da escola e pai de Adam, cobra do rapaz uma postura exemplar o tempo todo, criando nele um comportamento agressivo e reprimindo sua homossexualidade; as mães de Jackson, que depositam nele todas suas expectativas pessoais e, na primeira oportunidade ele abusa do consumo de álcool; e vale destacar a relação entre Eric e seu pai que, mesmo sendo religioso, aceita a homossexualidade do filho.

O documento da Unesco “Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro” diz que há pessoas que “podem resistir à influência de pares e  normas sociais  em  sua  tomada  de  decisão sobre o comportamento sexual”. Também afirma que, embora o ambiente familiar possa influenciar o aprendizado sobre a sexualidade, os valores individuais podem mudar, que preceitos culturais e/ou sociais podem ser questionados e reformulados, e que a empatia e respeito por diferentes concepções, crenças e atitudes são necessários. “É preciso saber diferenciar entre os valores pessoais (morais, religiosos) e os valores importantes para a vida em sociedade, como o respeito e a solidariedade, à diversidade humana e às diferenças de pensamento”.

 

O lar deve ser um ambiente seguro para falar sobre o tema

Para Lilian, é fundamental criar um ambiente seguro para a criança e para o adolescente falarem sobre sexualidade. “Não dá para educar a criança com os próprios preceitos! É necessário criar canais de comunicação, sem repreender, para que os jovens saibam que o lar é um local seguro para falar sobre o tema. Se não criar esse caminho, eles não trarão essas questões para os pais. Os pais precisam ser educados para criar esse ambiente e precisam entender que falar sobre sexualidade não é erotizar a criança”, afirma a especialista.

O documento da Unesco também fala sobre o Programa Gênero e Diversidade na  Escola  (GDE),  lançado  em  2006, Ministério da Educação (MEC). De acordo com o estudo, o programa busca preencher uma lacuna na formação docente continuada sobre a temática e visa romper o ciclo de desigualdades no ambiente escolar, tais como a misoginia, homofobia, transfobia, lesbofobia e o racismo.

Trazer a educação em sexualidade para o ambiente escolar e familiar, de acordo com a especialista Lilian, é uma forma de dar limite e informação. “Falar sobre o tema ensina a respeitar o próprio corpo e o das outras pessoas. Ajuda a prevenir e identificar abusos. A educação em sexualidade ajuda a prevenir doenças venéreas e, em geral, atrasa o início da vida sexual”, afirma.

 

Educação para prevenir Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs)

Os números de DSTs são alarmantes e ratificam a importância da educação em sexualidade para falar sobre os riscos e ensinar as formas de prevenção. Essa informação é fundamental para os pais, pois em muitos casos eles acreditam que falar sobre o tema fará a criança iniciar a vida sexual precocemente. Um exemplo dessa desinformação é a vacinação de adolescentes contra o HPV, vírus de transmissão sexual que causa câncer. Até 2018 a campanha de imunização atingiu apenas 48,7% das meninas entre 9 a 14 anos, faixa etária alvo recomendada pela OMS, devido à visão distorcida dos pais. De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids lançado pelo Ministério da Saúde, o número de novos casos anuais de HIV, quase 140% entre 2007 e 2017. O número de novos casos de sífilis aumentou em 133% entre mulheres grávidas.

Como forma de prevenir e orientar as crianças e adolescentes a identificarem casos de abusos, a educação em sexualidade ensina sobre as partes do corpo, sobre consentimento e os limites para que cada jovem saiba até onde pode ir no corpo de outra pessoa e até onde podem ir no seu corpo. Isso permite que saibam quais toques, conversas, aproximação são, ou não, adequados. É muito importante também trabalhar um círculo de confiança, para que a criança saiba com quem ela pode conversar, tendo a certeza que ela será ouvida e não será reprimida.

“Em geral, o início da vida sexual se dá pelos motivos errados, como provar amor e aceitação social. Educação em sexualidade ensina sobre aceitação do próprio corpo, da sua identidade, previne DSTs e ajuda os jovens identificarem abusos. Não é apenas ato sexual! Falar abertamente sobre o assunto dá ferramentas para o jovem dizer não e aceitar a negativa de outra pessoa, ensina-o a se posicionar e identificar relações abusivas. Falar sobre sexualidade é uma necessidade”, finaliza Lilian.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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