Realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, evento acontece nos dias 26 e 27/02 e 6/3

Música, humor, papo cabeça, diversidade e diversão, essa mistura é o fio condutor do Festival Joana Getúlio, que acontece nos dias 26 e 27 de fevereiro, e 6 de março. A Programação conta com entrevista com a Rita Von Hunty, bate-papos e performances com os artistas convidados Luís Lobianco, Éber Inácio, Palloma Maremoto e Karoline Absinto, e show da “Joana Getúlio – uma banda de banheiro”. Toda programação será transmitida pelo canal do Youtube da banda e pelo Instagram @joanagetulio.

O festival, realizado com apoio da Lei Aldir Blanc, é idealizado pela banda Joana Getúlio, grupo que tem como base para sua criação artística a contribuição para a construção de uma sociedade mais inclusiva nos movimentos LGBTQIA+ e feminista. A banda é formada por Nelson Borges, Isabela Rangel, Felipe Arouca, Andréa Cevidanes e Dani Ramalho.

O Matraca Cultural conversou com o produtor executivo do festival, Mateus Bento. Ele fala sobre importância das leis de incentivo e a contribuição da cultura para uma sociedade mais justa e inclusiva. Confira!

Matraca Cultural: Como surgiu a ideia de formar a banda?
Mateus Bento: Foi em uma mesa de bar no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 2016. Após o ensaio de um outro espetáculo, e tomados ainda pelas músicas do dia de trabalho, começou-se a idealizar um projeto onde a mistura do teatro e da música estariam tão unidas que seria complicado rotular como show ou peça. Pensando na utilização do humor como instrumento de comunicação e na vasta diversidade da música popular brasileira, foram idealizados vários números para que a identidade da banda fosse construída. Identidade esta, que até o momento se encontra caminhando e seguindo fluida. Diante dessa ausência de categorização, em relação ao chamado “padrão”, constituiu-se uma construção livre de amarras. Após influências do vaudeville, teatro do desbunde, e o trabalho desenvolvido por artistas da noite carioca, a criação procurou materializar temas transversais sociais, políticos e culturais de nossa sociedade em performance, musical e teatral.

MC: Qual foi o impacto para vocês do fechamento dos teatros no ano passado e como foi a transição para o ambiente online?
MB: O fechamento dos teatros aconteceu logo após uma apresentação que havíamos feito no Centro Cultural Carioca, em que tivemos um ótimo público e estávamos com conversas encaminhadas para mais duas apresentações em outros lugares, que acabaram não acontecendo. Diversos trabalhos foram cancelados.

Em relação à transição para o ambiente online, após um período inicial de observação e reflexão do momento histórico que vivemos, procuramos produzir diante dessa diversidade. A princípio, ainda estávamos tentando entender todo esse ambiente virtual e como ele poderia funcionar, e, aos poucos, fomos nos adaptando, para traduzir melhor, como a vontade do fazer artístico poderia se aproveitar desse novo ambiente. Começamos então a realizar duas reuniões semanais, uma para conversarmos e termos ideias em relação à cenas e performances, e outra para afinarmos essas ideias de números, até chegarmos a uma apresentação completa em formato de live no Instagram. Tivemos uma boa receptividade do público e, ao longo desse processo, repensamos cenas, inclusive, algumas até entraram no repertório fixo da banda ou então foram para o banco de cenas para usarmos em apresentações futuras.

MC: Como surgiu a ideia do festival e quais as expectativas?
MB: Quando idealizamos o Festival Joana Getúlio, pensamos que seria interessante agregar outros elementos ao show da banda performática e, por isso, decidimos trazer o público mais para perto e de uma maneira mais ativa, com a possibilidade de uma participação frente aos modelos de apresentações realizadas recentemente. A partir dessa ideia dentro do projeto, construímos a ação Joana Getúlio Entrevista, que permite a interação do público com comentários e perguntas. Quando a Rita concordou em ser nossa convidada, ficamos extremamente felizes, pois ela segue uma linha próxima da banda, de levar informações sobre temas sérios de uma forma mais leve e descontraída.

Joana Getúlio Convida, a ação em que chamamos os artistas para fazerem performances e conversarem conosco, surgiu a partir de como nós surgimos também, uma vez que a nossa principal inspiração veio através dos artistas da noite carioca, onde vimos a riqueza de conteúdo e potencial, para falar sobre diversos temas das mais variadas formas que esses artistas possuem. A partir disso, achamos que seria interessante convidarmos esses artistas para falarem sobre suas histórias, inspirações, e experiências na noite carioca. Quando fizemos isso, ainda tivemos o grande prazer de podermos contar com quatro artistas incríveis. O Éber e o Lobianco, que juntos apresentavam-se no Buraco da Lacraia, e que muitas vezes nós da banda fomos juntos assistir. A Palloma, que colou conosco e nos ajudou na formação da identidade artística de cada integrante e o Paschoal (com a Drag Karoline Absinto) que já dividiu o palco conosco em outras ocasiões, uma delas como convidado, em uma apresentação na nossa temporada no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, e sempre passou muita alegria e diversão na troca com o público.

O show é a última ação com transmissão ao vivo do festival e é de onde todo o projeto surge, partindo da vontade de passarmos a nossa mensagem abordando questões de relevância a partir do humor, além de ter sido o ponto inicial de todo o projeto.

Ao final, será divulgado um documentário com trechos do festival e história do grupo que, assim como as demais ações, pretende-se levar para o alcance de um público maior o que acreditamos como uma das formas de arte e como ela pode inspirar para uma sociedade mais inclusiva e de oportunidades.

MC: Qual a importância do apoio da Lei Aldir Blanc na realização do evento e por que é tão importante que haja leis de apoio à produção cultural?
MB: Foi graças à Lei que foi possível tirar o projeto do papel. Quando algumas pessoas pensam na questão de apoio financeiro do governo, imaginam que é uma espécie de “caridade” dada aos artistas. Não sabem que na verdade é um investimento para que o trabalho seja realizado com as condições necessárias, trazendo diversas contrapartidas para empresas, sociedade e para o próprio governo. Muito disso inclusive, derivado das fake news em relação à Lei Rouanet e da forma com que os mecanismos de incentivo à cultura funcionam no Brasil.

Ao analisarmos os projetos, financiados diretamente pelo Estado com recursos próprios, ao invés de mecanismos de isenção fiscal, percebemos que todo o dinheiro investido acaba voltando para a sociedade. Tomando o nosso projeto como exemplo, estamos gerando cerca de 35 empregos de forma direta, dando renda, diretamente a 35 profissionais que fazem parte de um dos setores mais atingidos pela pandemia do coronavírus. Pessoas que não estariam trabalhando e não estariam recebendo, se não fosse por este aporte financeiro. Todo este dinheiro acabará retornando para o estado através do pagamento de impostos em mercadorias, serviços etc. O mercado da Economia da Cultura ou Economia Criativa é um dos que mais cresce no mundo, pois tem uma taxa de retorno de cerca de quatro vezes o valor investido, podendo atingir taxas de retorno maiores, dependendo da forma de aplicação. Além da relevância econômica que os editais de fomento às artes trazem, é necessário entender como a realização dessas iniciativas são importantes para sociedade como um todo. A cultura é algo que perpassa todo ser humano que, de alguma forma, está inserido em algum tipo de sociedade, e é a partir da arte que propomos desenvolver a empatia, trazer o debate para temas polêmicos e sensibilizar as pessoas em relação à diversidade humana, às liberdades individuais e passar a mensagem do amor.

MC: Quais foram os critérios para escolher os convidados e o que eles agregam ao festival?
MB: Quando buscamos os convidados para participarem do projeto, gostaríamos de contar com a presença de artistas que principalmente dialogassem artisticamente e ideologicamente com a nossa banda. Usamos como critério artistas que nos inspiram, que saibam como podem ser as cenas noturnas performáticas, que tenham trocado de alguma forma conosco e que tenham influenciado de alguma maneira no nosso estudo. Por isso escolhemos Rita Von Hunty, com seus conteúdos na internet e entrevistas que nos fazem pensar como sociedade, Luis Lobianco e Éber Inácio, com suas performances no Buraco da Lacraia e trabalhos como atores, dramaturgos e diretores, Palloma Maremoto, com suas performances e sua formação em caracterização artística, e Karoline Absinto, com sua presença nos palcos e na internet que cativam o público, além da parceria que deu certo em outras ocasiões. Estamos bem felizes com esse elenco reunido.

MC: Quais as bandeiras que vocês defendem e por que vocês acham que a cultura é uma ferramenta importante para falar sobre questões sociais?
MB:  Joana Getúlio tem como lema as palavras liberdade e diversidade, tanto no repertório, quanto no contexto artístico e social em que se encontra a banda. Procuramos no movimento LGBTQIA+, nas diversas correntes do movimento feminista, base para a criação artística e contribuição na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Acreditamos que a partir da arte é possível trazer o debate sobre temas mais sensíveis de uma forma diferente. Acreditamos muito no uso do humor e dentro do nosso repertório temos uma grande diversidade, transitando da MPB ao brega, passando por Whitney Houston e sertanejo no meio do caminho, sempre usamos e performamos em cima das letras e brincamos com o próprio estilo, buscando utilizar o humor como catalisador para a reflexão. Ao falarmos sobre temas sérios com uma abordagem mais leve, acreditamos que passamos a um número maior de pessoas nossa mensagem de respeito ao amor em suas mais diversas formas, a liberdade e a diversidade humana em todas as suas expressões.

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