Disciplina, respeito ao próximo e a si próprio, coordenação motora e criatividade, além de ganhos físicos, psicológicos e emocionais são os principais benefícios

 

Billy Elliot é um dos musicais de maior sucesso da Broadway. Recordista de premiações em teatro musical, vencedor de 10 Tony Award e 5 Olivier Award, a produção conta a história de um menino, filho de um trabalhador de mina que, incentivado pelo pai, luta boxe. Porém, o garoto descobre que quer ser bailarino e troca as luvas pelas sapatilhas, contra a vontade do pai.

Recentemente o espetáculo ganhou uma adaptação no Brasil, apresentada no Teatro Alfa, em São Paulo, e foi grande sucesso de público. A inspiradora história do menino que luta para realizar seu sonho passa uma mensagem importante e necessária: dança é coisa para homens, SIM.

Victor Mota – Foto de arquivo pessoal

Para a bailarina e proprietária da escola de dança que leva seu nome, Erica Rossati, é preciso acabar com a mentalidade de que balé não é coisa para homem. “Durante a infância existem poucos meninos na dança, principalmente por falta de incentivo da família e devido ao preconceito da sociedade. A criança que é estimulada a dançar aprende a ter disciplina, a respeitar ao próximo e a si mesma, trabalha a coordenação motora, além dos benefícios físicos, psicológicos e emocionais. Ela estará em perfeito estado de harmonia”, explica Erica.

Juliette Gonzaga dos Santos, que trabalha com dança pelo viés pedagógico, continua. “A dança permite um diálogo do contexto sócio cultural com o repertório corporal da criança. É muito mais do que saltos e giros, ela permite que os pequenos se apropriem de forma reflexiva e transformadora, não só do movimento, mas também do meio onde vive e do mundo. Isso a torna capaz de demonstrar emoções, criatividade, autonomia e, principalmente, a sua identidade”, completa.

Ainda hoje, os meninos que praticam aulas de dança sofrem bullying na escola e, muitas vezes, nem começam a dançar, porque consideram algo apropriado apenas para meninas. “Qualquer discurso que classifica determinadas atividades como ‘apropriadas para homens ou mulheres’, limita a autenticidade das pessoas. Os pais, em sua maioria, projetam seus próprios medos nos filhos, o que pode causar angústias e impedir sonhos. Quando impedimos alguém de sonhar, estamos interferindo no sentido da vida do outro. Olhe mais para seus filhos com os olhos do coração”, afirma o bailarino e psicólogo Marcos Vinícius Sant’Ana.

Pedro Pardo Silveira – Foto Emilene Silveira

Mesmo quando os pais apoiam a escolha dos pequenos, existe a preocupação de como a criança será tratada pelos colegas. Quando Pedro Pardo Silveira, de sete anos, decidiu que queria dançar balé, seus pais ficaram muito felizes, pois sabiam como seria bom para o desenvolvimento da consciência corporal, mas tiveram preocupação sobre o bullying que ele poderia sofrer na escola. “Apesar da nossa preocupação, nós acreditamos que o diálogo daria conta de todas as situações. Ele ouviu piadas poucas vezes e reagiu explicando o que falamos em casa: meninos e meninas podem fazer o que quiserem. Ele está no quarto ano de balé e já percebemos muitos benefícios. Ele tem mais concentração e gosta de se apresentar mesmo que para grandes públicos, portanto está mais extrovertido”, comenta o jornalista Rodrigo Samy Silveira, pai do Pedro.

O primeiro contato do garoto com a dança, foi por intermédio de sua mãe que o levou para ver a aula de balé das suas amigas. “Eu vi e gostei muito e quis tentar fazer também. É muito divertido pular, dar mão, fazer roda, pular de novo e aprender os passos novos. Meus amigos gostam de me ver dançar e pedem para eu ensinar alguns passos”, conta o menino.

Já Afonso Garcia de Oliveira, que iniciou as aulas de dança durante o ensino médio, conta que ouviu muitas piadas na escola, mas nunca se importou. Porém ele teve algumas barreiras familiares. “A notícia que eu iria dançar balé causou muita estranheza nos meus pais e meu irmão mais velho. Minha mãe, com o tempo, passou a gostar muito e me apoiar. Já meu pai não queria que eu fizesse e foi uma barreira que eu tive no começo.

Bailarino Afonso Garcia de Oliveira – Foto Karina Fojo

Hoje ele me ajuda, mas não aceita tanto. Ter a minha mãe ao meu lado me deu força e me incentivou muito. Eu geralmente penso nela quando estou dançando”, lembra o bailarino. “Existem poucos héteros no balé, porque o preconceito da sociedade impede homens de dançar. Eu mesmo, que sou hétero, pensava que dançar era coisa para mulheres, mas rompi esse preconceito, que é cultural no Brasil e precisa acabar”, completa.

“Culturalmente, meninos são instruídos a jogar bola e existe pouco incentivo para a dança. Barreiras intelectuais, de que homens não podem ter molejo ou fazer uma aulas de dança, já são introduzidas na cabeça das crianças desde cedo. Na maior parte das vezes esse discurso vence. O bullying pode prejudicar muito uma criança que quer dançar. O discurso preconceituoso faz isso. A dança deveria ser incentivada nas escolas e nas aulas de Educação Física. O respeito deve prevalecer”, finaliza o educador físico e personal trainer Marcelo Santana.

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Antonio Saturnino

Jornalista, atleta frustrado, cantor de karaokê e pai de pets. Ama música e escrever sobre o tema durante anos lhe permitiu conhecer novos cantores e estilos musicais, então vocês verão muita coisa diferente e nova por aqui. Dança no meio da rua, adora cozinhar e estar em conexão com a natureza.

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