Aventura de três amigos na obra de Jack Brandão Mariana Mascarenhas abril 2, 2019 ENTREVISTA Foto: Jack Brandão “O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. Todo o meu saber consiste em saber que nada sei”. Essa frase, proferida pelo filósofo grego Sócrates, nos remete para uma conclusão de que, quanto mais nos aventuramos no universo do conhecimento, maior é a nossa percepção do quão pouco sabemos. Essa abordagem é trabalhada no livro Douglas e o Livro de Luz, escrito pelo Prof. Dr. Jack Brandão. O livro conta a história de Douglas, um adolescente órfão que vive com a sua avó e que se destaca por sua curiosidade em querer saber cada vez mais sobre o mundo. Ele e seus dois amigos, Maíra e Luciano, embarcam em uma aventura depois que Douglas se depara com a imagem de um grande livro de luz, de onde saem diversas imagens em códigos. Assim, eles terão que decifrar os códigos numa viagem no tempo e no conhecimento. À medida que os três jovens são movidos pelo seu objetivo, eles imergem numa pesquisa sem fim sobre caminhos que possam levá-los ao Livro. Nesse trajeto, eles vão adquirindo algo valioso, o qual ninguém lhes poderá tirar: o conhecimento. A consciência do quão pouco sabem e necessitam pesquisar mais e mais, levam-nos a desconstruir ideias e crenças numa abertura cognitiva ao novo. A relação com o passado e o quanto de referencial desse período que se perdeu, dificultando a real compreensão de determinadas informações, por terem sido descontextualizadas, é outra reflexão importante sobre como jamais devemos estudar algo, sem considerar todo o seu contexto histórico. É justamente esse apreço pela relevância do passado que levou o escritor a produzir a obra. “Eu sempre gostei de analisar o passado, afinal, ele é essencial para a compreensão de tudo o que vivemos hoje. Algo que me chama muito a atenção, por exemplo, é a questão da fotografia, que nos leva a uma busca pelo passado”, afirma Brandão. Ele ressalta como cada um tende a interpretar as imagens de acordo com seu próprio acervo imagético, denominado pelo professor de iconofotológico. Trata “de um acervo fotográfico virtual, construído durante toda nossa vida” que, segundo o professor, cada indivíduo possui e que consiste em um estoque de imagens mentais, ao qual recorre para interpretar determinada informação que tem diante de si. Por isso é importante o referencial do passado, como acontece na história, quando Douglas e seus amigos descobrem a importância dele para decifrar os códigos na busca pelo livro de Luz. “No século XVIII, por exemplo, o chamado século das luzes, toda a teoria construída ao longo da Idade Média, culminando no Renascimento, é, simplesmente, excluída da humanidade. A partir de então, somente a ciência passa a ser valorizada, devido à razão. Todavia, o homem não é apenas racional, mas emocional e ambos devem ser valorizados”, ressalta o professor. Em sua obra, ele destaca tal fator por meio do significado simbólico dos animais que, atualmente, já não produz sentido para a maioria das pessoas. É o que acontece com os próprios personagens quando começam a descobrir tais significados ao tentar desvendar os códigos e se surpreendem com as pesquisas realizadas. Uma surpresa que acontece pela falta do referencial até então. “Temos apenas alguns resquícios desse referencial perdido, mas não os compreendemos em sua totalidade. Consideremos o exemplo do morcego. Trata-se de um animal ainda associado às trevas, à escuridão. Mas o que muitos não sabem é que, por muito tempo, ele foi considerado um animal do demônio e por isso o matavam. Não se conhecia a sua importância para a sociedade, já que ele come diversos tipos de insetos que podem nos fazer mal”. Em relação ao público do livro, embora a história seja protagonizada por adolescentes e suas descobertas, o autor afirma que se trata de uma obra destinada para todas as faixas etárias, as quais são convidadas a exercitar a leitura crítica. “No decorrer do livro, eu busco mostrar que toda obra deve ser lida criticamente, de modo especial a imagem, pois muitos possuem a falsa impressão de que é fácil ler uma imagem utilizando os recursos naturais que nós temos. Todavia, não podemos nos esquecer do contexto em que ela foi produzida, do seu referencial. Algo também válido para o conceito de verdade. Afinal, o que é a verdade? Ela não existe. O que existe são fatos, os quais são comprovados. No entanto, é preciso ter uma visão crítica desses fatos, o mesmo ocorre para a literatura”. A obra também fala sobre o valor da união e de uma amizade verdadeira, pois todo o aprendizado de Douglas em suas aventuras é construído com a ajuda dos seus amigos. Segundo o autor, são justamente as visões diferentes dos personagens que contribuem para que o grupo crie a sua própria personalidade permitindo uma visão mais ampla e clara, a qual não poderia ser formada por apenas uma pessoa. Outro ponto abordado é o aspecto que, na visão de Brandão, é necessário que seja trabalhado com o indivíduo desde criança para que ele saiba lidar com ele: a morte. “Quando analisamos os contos infantis, como a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, entre outras, é possível perceber que trabalham com a questão da morte, do vilão, do sofrimento. Isso é essencial para a criança. Todavia, está havendo discussões sobre o problema de abordar tais questões com os menores. Mas não há problema algum, pelo contrário”. Para o professor, a retirada de tais questões é perniciosa para a criança por inseri-la num mundo fantasia desprovido de problemas, o que poderá impedi-la de lidar com as frustrações e de desenvolver uma visão crítica de mundo. Douglas e o Livro de Luz é uma obra instigante para que possamos refletir não apenas sobre a história dos personagens, como sobre a nossa própria leitura de mundo para que não sejamos meros receptores passivos de informação. Serviço: Douglas e o Livro de Luz Autor: Jack Brandão Editora: Lumen et Virtus Mais informações: www.editoralumenetvirtus.com.br Leave a Reply Cancel ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website