Artigo enviado pelo Produtor audiovisual Jo Rauen

Alarmada pela queda na audiência e constantes ataques sociais a organização do Oscar vem buscando trabalhar para resgatar seu prestígio, nunca tão em baixa anteriormente. E para isso, a Academia utiliza-se de uma interessante estratégia: deixa de lado o requinte para buscar a popularização.

Entre suas ações, a organização ventilou encurtar a transmissão, distribuindo algumas estatuetas técnicas durante os intervalos comerciais, e adicionaria uma nova categoria – Melhor Filme Popular. A essa altura as duas ideias já foram descartadas após péssima repercussão entre os membros votantes.  Decisão sensata ao se imaginar o alvoroço que causaria se um filme com temas sociais relevantes, porém popular, como “Pantera Negra”, recebesse um tipo de “miss simpatia” do Oscar.

Depois que filmes focados em personagens negros foram negligenciados para indicações ao Oscar em 2015 e 2016, o protesto #OscarsSoWhite foi tão feroz que a academia decidiu convidar centenas de novos votantes, buscando aumentar a diversidade do seu quadro de membros.

Outra novidade é a aproximação com a Netflix que vem investido pesadamente para se firmar como competidor. Como o serviço de streaming não lança seus filmes no cinema, muitos defendem que suas produções deveriam ser consideradas pelo Emmy, um prêmio focado em produções para a televisão. Até então, a plataforma vinha sendo regularmente esnobada, mas nesta 91ª cerimônia do Oscar, além de emplacar “Roma” nas principais categorias, a Netflix também garantiu indicações para “A Balada Buster Scruggs”.

E de fato, comparado a edições anteriores, os indicados a melhor filme parecem mais abrangentes. Além de “Roma”, um filme em preto e branco e em língua estrangeira, “Pantera Negra” e “Infiltrado na Klan” discutem fortes temas culturais. Grupos de direitos dos homossexuais elogiaram “A Favorita” por sua representação de um triângulo amoroso feminino (mas não tão felizes com a tímida abordagem da homossexualidade de Freddy Mercury em “Bohemian Rhapsody”). E “Nasce uma Estrela” é sobre uma mulher em ascensão.

Assim, o Oscar deixa de ser um prêmio técnico para se colocar como entretenimento popular e com isso, veremos o prêmio de uma forma diferente. Já teremos assistido aos filmes que estão concorrendo e selecionado os nossos favoritos. E então assistiremos à competição para torcer por nossos filmes de coração, como em uma competição esportiva. Finalmente, o melhor filme deixa de ganhar o prêmio por ser o mais sofisticado e passa a ganhar o que foi o maior fenômeno cultural. E nada mais justo.

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Jo Rauen é  produtor audiovisual e está à frente da produtora Island Bridge com sede em Florianópolis (SC) e Nova Iorque (EUA). Além de ter sido a primeira produtora brasileira a assinar uma série para Amazon Prime USA, a empresa agora trabalha ao lado da  paulista Black Filmes para recontar a trajetória do nadador Daniel Dias.

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Matraca Cultural

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