Crédito: Paulo Pimenta

A peça Anônimo não é nome de mulher chega aqui depois de estrear na cidade de Farmalicão, em janeiro. Retrata o drama de mulheres dadas como loucas por desafiarem regimes opressores. Internadas em hospícios, eram torturadas, esquecidas e mesmo mortas. A direção é de António Durães.

Seguindo sua proposta de desenvolver intercâmbio com universidades, companhias e artistas ao redor do mundo, a SP Escola de Teatro recebe, a partir de 2 de fevereiro, a Cia. Narrativensaio – AC para uma residência artística em sua sede. O grupo português é capitaneado por Luisa Pinto, encenadora, atriz e professora de teatro na ESAP (Escola Superior Artística do Porto). Para o intercâmbio de experiências artísticas, a companhia faz duas apresentações abertas ao público (9 e 10 de fevereiro, às 20h30) do espetáculo Anónimo Não É Nome de Mulher, na Sala Alberto Guzik (R1) da SP Escola de Teatro e realiza três workshops para alunos da escola, ministrados por integrantes da montagem. A parceria entre a SP e a ESAP já acontece há muitos anos e contou com diversos projetos de intercâmbio entre estudantes e professores, colóquios e residências artísticas. Em maio de 2022, o diretor executivo da SP Ivam Cabral assumiu o cargo de consultor da Comissão Externa Permanente de Aconselhamento Científico (CEPAC), do Centro de Estudos Arnaldo Araújo (CEAA), parte da ESAP.

Anónimo Não É Nome de Mulher

Dirigido por António Durães e atuação das atrizes Luisa Pinto e Maria Quintelas, Anônimo não é nome de Mulher retrata o drama de mulheres dadas como loucas por desafiarem regimes opressores. Internadas em hospícios, eram torturadas, esquecidas e mesmo mortas. Mariana Correia Pinto, autora do texto, conta que a peça nasceu do encontro da diretora artística da companhia Narrativaensaio-AC, Luisa Pinto (uma das atrizes em cena), com os livros “Malacarne: Mulheres e manicômios na Itália fascista”, da italiana Annacarla Valeriano (agraciado com o prêmio Benedetto Croce em 2018), e “Holocausto Brasileiro”, da brasileira Daniela Arbex (que conquistou o segundo lugar do prêmio Jabuti, em 2014, na categoria de Reportagem).

Na Itália, a lista de justificações para deter mulheres era extensa, recorda Mariana Correia Pinto: “Os crimes destas mulheres eram de todo o tipo, eram mulheres que, por exemplo, não conseguiam engravidar, consideradas ‘defeituosas’, mulheres cujos maridos tinham amantes, prostitutas, mulheres sem abrigo, pobres, filhas mais rebeldes, mulheres que liam em lugares públicos e todas eram mandadas para um hospício. Era uma forma de o regime controlar aquilo que estava aqui fora”. Já “Holocausto Brasileiro”, descreve o caso do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido como Colônia, que reunia mulheres, mas também homens e crianças, onde, segundo a sinopse do livro, “apesar das denúncias feitas a partir da década de 1960, mais de 60 mil internos morreram e um número incontável de vidas foi marcado de maneira irreversível”.

Luísa Pinto percebeu semelhanças entre as duas realidades e decidiu levar a história ao palco, convidando a jornalista para escrever o texto, em sua estreia como dramaturga. “Fomos percebendo que era uma realidade muito comum aos regimes opressores. A peça não identifica o local onde a ação se passa, o que interessa é que estamos num regime opressor”, explica Mariana. Enquanto escrevia, ela teve a sensação de que esta realidade não era exclusiva dos séculos XIX e XX: ainda se vive atualmente. “Obviamente não são os hospícios, mas ainda existe uma luta maior para mulheres do que para homens.” Para o diretor, António Durães, “o espetáculo parte desta premissa, desta verdade: mulheres eram afastadas da sua vida social, familiar, pelas razões mais absurdas, que não tinham nada a ver com a saúde mental, por razões políticas, afetivas, tantas razões e eram internadas como doentes mentais em lugares horrorosos, como são normalmente esses lugares, de uma forma completamente abusiva”.

Em cena, as atrizes Luisa Pinto e Maria Quintelas, interpretam sete personagens mostrando diferentes pontos de vista sobre um mesmo acontecimento: o da mulher aprisionada, da médica que subjugou a prisioneira, da diretora da instituição e assim por diante. “A verdade, o fato, é o mesmo, mas os pontos de vista é que mudam”, conclui Durães.

Sinopse – No palco, duas mulheres internadas em um hospício, debatem-se com as suas dores, dúvidas e sonhos em cacos. Uma trabalhadora testemunha o impensável e questiona o seu papel. Uma mãe espera. Uma médica reduz pacientes a números. Uma autocrata zela pela “máquina” oleada do regime. Naquele lugar desumanizado, surge, no entanto, esperança: poderá a bondade vencer a opressão? Enquanto estas vidas se enovelam, outra mulher narra a sua história. Amor e violência, loucura e verdade, fama e solidão, violência e feminismo permeiam a montagem, que resgata histórias silenciadas e confronta o público com resquícios de um tempo não muito distante.

Ficha Técnica – Texto – Mariana Correia Pinto. Encenação – António Durães. Assistência de encenação – Joaquim Gama. Interpretação – Luisa Pinto e Maria Quintelas. Composição e interpretação musical – Cristina Bacelar. Espaço cénico – António Durães. Figurinos – Composição coletiva. Luz – Francisco Alves. Fotografia de Cena – Paulo Pimenta. Coprodução – Narrativensaio – AC, Casa Das Artes de Famalicão e SP Escola de Teatro. Apoio: Centro de Estudos Arnaldo Araújo/ESAP, Mira Forum. Duração: 90 minutos.

Serviço – Dias 9 e 10 de fevereiro, às 20h30
Local: SP Escola de Teatro, Praça Franklin Roosevelt, 210 – Sala Alberto Guzik (R1)
Entrada gratuita – Ingressos via Sympla – SP Escola de Teatro Digital

Sobre Luisa Pinto

Doutora em Estudos Artísticos, na especialidade de Artes/Estudos Teatrais e Performativos pela Universidade de Coimbra. Encenadora, atriz, professora de Teatro na ESAP e na UTAD. Investigadora integrada no Centro de Estudos Arnaldo Araújo – ESAP. Fundadora e diretora artística da Companhia de Teatro Narrativensaio – AC. Como encenadora, montou mais de trinta peças, entre elas: Eu nunca vi um helicóptero explodir de Joel Neto; Missa do Galo de Carlos Tê; Breviário Gota D´água de Heron Coelho; Caminham nus empoeirados de Gero Camilo, O Filho pródigo de João Maria André etc. Os seus espetáculos circulam por Portugal e no Brasil, onde leciona oficinas de teatro e dirige Masterclasses.

Entre 2007 e 2015 foi Diretora Artística do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery. Desde 2006 investiga e realiza projetos de Teatro em Contexto Prisional, todos com apresentações públicas fora dos muros da prisão com elencos constituídos por atores profissionais e reclusos/as. Foi correalizadora do documentário Rompendo os Muros da Prisão e correalizadora do Longa metragem O Filho Pródigo, que teve exibições nos seguintes festivais: The independente Cinematography Award – Inglaterra; Vsuvios international Film Festival – Itália; Cluj-Napoca- Roménia; Femme – Portugal. Formadora no programa promovido pela da DGARTES – Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses. Membro da comissão de avaliação dos ciclos de estudos de teatro em Portugal 2021/2022

Sobre Cristina Bacelar

Cristina Bacelar, natural do Porto, onde reside, e sempre dedicou-se à música, tanto como, quanto como músico. Possui Licenciatura em professores do 1º e 2º ciclo, na disciplina educação musical. Estudou guitarra Flamenca com o guitarrista Pedro Jóia e António Cobra, guitarra clássica no Curso de Música Silva Monteiro (8ºGrau) e piano com Nuno Saavedra. Fez parte do projeto Frei Fado D’el Rei desde a criação do grupo. Com este mesmo projeto, viajou pela Europa, Brasil e Estados Unidos e recebeu, em 2009, o prestigiado prêmio da música portuguesa José Afonso. Foram convidados a participarem no maior festival de músicas do mundo Memphis in May, nos Estados Unidos. A convite do Governo Mexicano, tocou no festival Ollin Kan, na cidade do México. Já tocou com músicos, como Madredeus, Carlos Paredes, Vitorino, Uxia, entre outros. Em 2006, foi júri do festival R.T.P da Canção, a convite da RTP.

Em 2007 edita o primeiro disco a solo, Descartabilidade, tributo à Florbela Espanca. Em 2009 formou o grupo, As 3 Marias, um projeto de fusão que tem na sua essência o tango mesclado com outras sonoridades musicais. O primeiro trabalho discográfico desta banda, Quase a 1 vez, foi disco Antena 1 e teve a participação de Sérgio Castro, dos Trabalhadores do Comércio. Em 2013, saiu o 2º trabalho discográfico , Bipolar, também disco Antena 1, que teve a produção de Quico Serrano. Neste disco, pode-se ouvir a versão de Libertango de Astor Piazzolla, que recebeu muitos elogios por parte dos detentores dos direitos de Piazzolla, assim como, um convite para gravarem alguns originais do compositor argentino. Ainda neste trabalho, gravam o tema No teu poema, que contou com a participação de Simone de Oliveira. Desde então, tem acompanhado a cantora e atriz em concertos. Participou com As 3 Marias e também solo no concerto dos 58 anos de carreira de Simone de Oliveira, onde acompanhou também o fadista Ricardo Ribeiro.


Sobre a SP Escola De Teatro – Conexões internacionais
Com projeto de educação modelo e inspiração para países como Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha, Suíça, a SP Escola de Teatro desenvolveu um sistema de ensino pedagógico hoje exportado também para a Ásia, África e América Latina, continentes com os quais realiza frequentes intercâmbios entre pesquisadores e alunos. Na área das ideias e pensamentos, as conexões se refletem ainda na contribuição frequente com artigos em renomadas publicações internacionais. Vale destacar que as articulações com o Exterior – viagens – são realizadas com recursos próprios ou por meio de apoio de instituições parceiras. Pelo modelo de educação, a SP Escola de Teatro recebeu seu primeiro prêmio internacional em 2020, em Londres, Reino Unido e em dezembro de 2022, Ivam Cabral – diretor executivo da instituição – viajou a Bruxelas, Bélgica, para receber um segundo prêmio concedido à SP, desta vez pela Suíça, por seu trabalho na área da educação.


Atuação local
No Brasil a SP Escola de Teatro tem parceria com a Fundação Casa, e recebe jovens em processo sócio-educativo. Disponibiliza bolsas-oportunidade para parte dos estudantes, com uma ajuda mensal de R$ 600. Tem atuado cada vez mais fora de São Paulo, em outros Estados, como Pará e Amazônia. Criou uma escola superior em Manaus e em Cáceres, no Mato Grosso. Pioneira em projetos de diversidade, contrata homens e mulheres transexuais há 12 anos, em regime CLT. Promove a SP Transvisão (11ª edição em janeiro de 2023), uma semana com mesas de discussão, apresentações e entrega do prêmio Claudia Wonder para personalidades trans que se destacam em diversas áreas. Desde o início, o projeto teve diferentes parceiros como a OAB-SP, Secretaria dos Direitos Humanos da Cidade de São Paulo, ABRAT e a ONG Mães pela Diversidade, entre outros, que foram pensando juntos e também se fortalecendo em torno dessa iniciativa.


Também desenvolveu ações externas como, por exemplo, deslocando funcionárias trans para operar na recepção da MIT em São Paulo. Recebeu o Selo Paulista de Diversidade, instituído pelo Governo do Estado de São Paulo, que destaca boas práticas organizacionais relacionadas à inclusão na política de gestão de pessoas das organizações, a preocupação e inclusão das temáticas das pessoas com deficiência, e às questões étnicas, raciais, de gênero, idade, orientação sexual e identidade de gênero, assim como para difundir a cultura de respeito, valorização e promoção da igualdade nos ambientes de trabalho. Ganhou recentemente o Prêmio APCA pela edição de obra Teatro de grupo na cidade de São Paulo e na grande São Paulo: criações coletivas, sentidos e manifestações em processo de lutas e de travessias.

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