Tragédia shakesperiana “Troilo e Créssida” é dotada de humor ácido Mariana Mascarenhas novembro 25, 2016 RESENHA Suas obras foram produzidas há mais de 400 anos e continuam a reverberar pelo mundo todo como os maiores clássicos da literatura e também do teatro. Não é difícil adivinhar a fórmula do sucesso que consagrou o dramaturgo inglês, William Shakespeare, como um dos artistas mais influenciadores de todos os tempos: suas histórias trazem uma visão de mundo que foi além do seu tempo, trabalhando relações e conflitos humanos de forma intensa e cuja essência pode ser muito bem aplicada nos dias de hoje. É o caso da mais nova encenação shakespeariana em São Paulo, com direção de Jô Soares. Trata-se da comédia Troilo e Créssida, em cartaz no Teatro SESI-SP. Não estranhe se nunca tiver ouvido falar desta obra, afinal este é considerado o texto menos conhecido do autor, pelo incômodo gerado na plateia – especialmente da época do escritor – em razão do humor extremamente ácido adotado na peça. Mas Shakespeare é Shakespeare, o que dispensa explicações, e tal espetáculo não fica aquém de outros elaborados por ele e já consagrados em todo o planeta. Uma mistura de guerra, luxúria, hipocrisias e ganância permeiam o enredo de Tróilo e Créssida, que aborda a guerra entre Grécia e Troia, depois que Páris (Kiko Bertholini) – filho do rei Príamo – rapta Helena (Adriane Galisteu) – mulher do lendário rei Menelau (Ando Camargo), que de lendário parece não ter nada. Em meio a esta batalha, Tróilo (Ricardo Gelli), irmão de Páris, se apaixona pela troiana Créssida (Maria Fernanda Cândido) e, quando finalmente conseguem consumar a paixão graças também à grande ajuda do tio de Créssida, Pândaro (Guilherme Sant’anna), uma série de circunstâncias poderá atrapalhar a vida dos dois. O espetáculo diverte o público e ao mesmo tempo o atenta para como a ganância e os prazeres da carne ditam os comportamentos humanos de forma satírica e atemporal, como o próprio criado grego Térsito ressalta na história: “A guerra e a luxúria nunca saem de moda”. Afinal, a hipocrisia e a ironia pairam sobre os personagens que agem compulsoriamente, em função única de atender seus instintos. Todo o elenco do espetáculo parece ter adentrado na mente de Shakespeare, transmitindo com fervor o borbulhar de sentimentos intensos e conflitantes típicos das obras do dramaturgo. Porém, não há como deixar de destacar o papel de Ataíde Arcoverde no papel do desbocado Térsito, que vive a bisbilhotar o que se passa ao seu redor e não economiza nas palavras amargas, mas sinceras, as quais contribuem para grande parte do humor da peça. Destaques também para o ator Guilherme Sant’anna, sempre brilhando tanto na expressão corporal quanto vocal, como é de práxis nas peças em que atua, e de Maria Fernanda Cândido, fazendo com maestria seu papel. Enfim, esta é uma peça que arranca risadas do público principalmente pela acidez do humor que pode chegar a incomodar, e cabe a cada um refletir: uma realidade que nos parece cruel demais para ser verdade por que somos diferentes ou por que agimos como os personagens do espetáculo – sem perceber ou ignorando que o fazemos? Tróilo e Créssida talvez represente um pouco do espelho da própria humanidade de hoje. Serviço: Peça: Tróilo e Créssida Teatro do SESI-SP: Avenida Paulista, 1313. Tel: (11) 3146 – 7405/7406 Quarta a domingo às 20h30 – na quarta (16/11) não haverá espetáculo Grátis Ingressos gratuitos reservados online pelo site www.sesisp.org.br/meu-sesi de 15 em 15 dias desde 10/10/16. Também são disponibilizados 50 ingressos por sessão na bilheteria do teatro, no dia do espetáculo, a partir do horário de abertura da bilheteria. Até 18 de dezembro de 2016 Leave a Reply Cancel ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website