Isolados, mas conectados pelo próximo Mariana Mascarenhas abril 19, 2020 REPORTAGEM Imagem: Ricardo Dias Paz, presidente do grupo Andarilhos do Riso, gravando vídeos para pacientes hospitalizados A pandemia do novo coronavírus alterou, radicalmente, o mundo que conhecíamos e a rotina de mais de um bilhão de pessoas que, segundo dados da AFP, estão confinadas em suas casas. Por enquanto, não há previsão de quando a situação se normalizará, e talvez ainda demore um bom tempo. Diante dessa situação, muitos tiveram que se reinventar por meio da tecnologia para darem continuidade às suas atividades, como é o caso daqueles que dedicam seu tempo para ajudar o próximo e agora encontraram novas formas de fazê-lo. O Matraca Cultural buscou alguns exemplos e encontrou de tudo: voluntários vestidos de palhaço gravando vídeos para pacientes hospitalizados, shows online com mais de 200 artistas para arrecadar fundos para necessitados, entre diversas outras ações que você confere a seguir: “Hoje tem palhaçada? Tem sim, senhor” O isolamento social não foi entrave para os voluntários do grupo Andarilhos do Riso que, todos os domingos, costumavam frequentar o Instituto de Cardiologia do Hospital das Forças Armadas, em Brasília, vestidos de palhaços, para levar um pouco de alegria para crianças e adultos hospitalizados. Com o isolamento, eles começaram a gravar vídeos em suas casas que passaram a ser exibidos aos pacientes nas televisões do local. A ideia veio do presidente do grupo, Ricardo Dias Paz. Primeiro tenente do Exército Brasileiro, ele faz questão de, desde 2011, quando entrou para a equipe, dedicar um tempo da sua agenda para alegrar o próximo. “Eu recebi, num grupo de Whatsapp de palhaços que visitam hospitais em São Paulo, um vídeo de um deles fazendo ‘palhaçadas’ e pensei por que não fazer o mesmo”. A partir daí, Paz compartilhou a ideia com o grupo e todos começaram a gravar vídeos. Para o presidente da equipe, a iniciativa, certamente, fará diferença na vida dos pacientes, afinal, muitos estavam acostumados com a presença física deles cantando, brincando, fazendo mágicas e palhaçadas. “Antes do isolamento, nós visitávamos cinco UTIS (pediátrica, coronariana, cirúrgica, Transplante de Medula Óssea e Unidade de Dor Torácica), além da enfermaria, totalizando cerca de 80 pacientes por domingo. Muitos deles já se arrumavam somente para nos receber”, diz Paz. Segundo ele, a animada recepção dos voluntários, que já chegam ao hospital interagindo também com a equipe da instituição, contribui também para fazê-los esquecer, um pouco, a situação em que estão, como é o caso daqueles que aguardam por um transplante, por exemplo. Criado em 2006, o Andarilhos do Riso conta, atualmente, com 30 integrantes que se revezam entre eles para realizarem as visitas de acordo com uma escala elaborada pelo presidente do grupo, com o intuito de limitar as faltas, controlar as presenças e garantir que os pacientes tenham diversão garantida todos os domingos. Tudo feito com muita responsabilidade. Cada um ganha um nome diferente ao entrar para a equipe. Paz, por exemplo, se transforma no palhaço Dr. Vagalume, fazendo palhaçadas e mágicas, especialmente para a criançada, enquanto outros tocam instrumentos e exibem outros talentos. Quem deseja entrar para o grupo, basta enviar um e-mail para contatoandarilhos@gmail.com e aguardar o retorno, pois, passará por uma espécie de processo seletivo. Para ver mais alguns vídeos enviados aos pacientes e conhecer melhor o trabalho da equipe, basta acessar o endereço: http://andarilhosdoriso.blogspot.com/ “O show tem que continuar” Com o isolamento social, as casas de muitos artistas transformaram-se em verdadeiros palcos que são transmitidos para milhares de pessoas por meio das telas do celular, do computador e da TV, graças às famosas lives, em que os cantores fazem shows online para que o público possa desfrutá-los, sem saírem do conforto de sua casa. Até o dia 19 de abril de 2020, por exemplo, acontece a primeira ação da Manifesta Arte em Rede. Imagem Divulgação Trata-se de uma maratona online cultural com quase vinte dias de duração que tem reunido 200 artistas de todas as linguagens para apresentações pela internet. São elas: exposições virtuais, debates, oficinas, intervenções, das linguagens de teatro, dança, circo, música, cinema, artes plásticas, literatura, artes visuais, cultura popular, contação de histórias, entre outros. Após assistir a qualquer uma das apresentações, o público paga o valor que desejar por meio de uma vaquinha online e 80% de todo o valor arrecadado será em prol de instituições que atuam com quem está mais vulnerável durante a pandemia: pessoas em situação de rua, indígenas e famílias periféricas de baixa. A ideia veio da produtora cultural Luciana Gandelini a partir de um convite feito a grupos, organizações e artistas com quem ela trabalha ou já trabalhou. “Com as pessoas que toparam, criamos essa espécie de coletivo e estruturamos essa maratona cultural com os materiais que os grupos tinham em seus arquivos (espetáculos prontos, documentários, filmes, etc..) e organizamos também aquilo que eles poderiam produzir agora, mesmo diante das limitações da quarentena”, completa. Luciana disse que está feliz com a repercussão do projeto, mas acredita que a ação ainda pode ganhar mais potência com a ajuda das pessoas. Para ela, trata-se de algo muito importante, especialmente neste momento em que o setor cultural foi fortemente impactado, e que funciona como uma rede de apoio em que um dá suporte ao outro e todos exploram, juntos, novas possibilidades para lidar com a quarentena. “É uma maneira também de passar por este período de uma forma questionadora e reflexiva, e fazer uso da voz dos artistas para chamar a atenção para temas importantes como falta de medidas do governo para defender de fato quem não tem recursos para se proteger da COVID-19”, destaca. A produtora ressalta não querer romantizar a quarentena com tal ação e nem habituar a população a consumir cultura somente pelo ambiente virtual, afinal a arte precisa do encontro, assim como a humanidade de modo geral. No entanto, como não podemos nos unir, fisicamente, neste momento, que o façamos pelo virtual. “O coletivo tem força e por isso queremos convidar a população para se juntar a nós!”, conclui. A ação pode ser acompanhada tanto no Facebook, quanto no Instagram e no YouTube e, segundo, a produtora, poderá acontecer em novas datas. No divã do Instagram Lidar com o isolamento social não é uma tarefa fácil, especialmente por se tratar de algo inédito e que veio de forma tão repentina. Com isso, muitas pessoas começam a sentir medo e ansiedade diante das incertezas futuras. Pensando nelas, o médico e psicólogo Dr. Roberto Debski começou, no dia 19 de março, a fazer lives gratuitas pelo Instagram a fim de orientá-las. Debski conta que, no início de março, já previa um cenário conturbado semelhante ao que outros países já enfrentavam com a nova pandemia e, no período que o isolamento social foi implantado, muitos passaram a procurá-lo. “Muitas pessoas já predispostas, e outras que até então nunca tinham se sentido assim, evidenciaram sintomas de ansiedade, estresse, pânico e depressão, e precisam ser cuidadosamente orientadas e tratadas, para que sua condição não se agrave e possam retornar a se sentir bem, com saúde, e podendo mesmo ajudar outras pessoas”. Assim, por meio do Instagram, ele vem abordando o quesito emocional e psicológico perante à pandemia, e as medidas necessárias que causavam a percepção de solidão, insegurança e diversos sintomas emocionais. “O movimento deu certo, as pessoas participaram e compartilharam com seus contatos, e no dia 08 de abril, já estava na 21ª live diária consecutiva”. Em muitas delas, o psicólogo traz convidados para falar sobre assuntos de interesse e com dicas para os participantes, como um educador físico que passa atividades físicas para fazer em casa, uma nutricionista, com dicas alimentares para melhorar a imunidade, um advogado com dicas sobre as medidas trabalhistas tomadas pelo governo, entre outros. O psicólogo se comprometeu em manter lives diárias até o final da crise e acredita que a repercussão da ação está sendo excelente, pois os participantes podem se engajar fazendo perguntas, dando dicas e, assim, focando no lado positivo da crise. Para finalizar, ele ressalta que todos devem manter a esperança, não passar o dia todo vendo notícias, informando-se sem excessos, além de manter uma rotina diária flexível com atividades o dia todo como leituras, atividades físicas, boa alimentação, lazer em casa, tempo para descanso, bom sono, entre outras orientações. As lives acontecem, diariamente, às 15h30 pelo instagram @robertodebski Na próxima semana, traremos mais exemplos de pessoas que, mesmo em meio a pandemia, se reinventaram para continuar ajudando o próximo. Leave a Reply Cancel ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website