A reflexão sobre as questões indígenas por meio da cultura Antonio Saturnino abril 30, 2019 REPORTAGEM Palcos de SP apresentaram programação especial para o Abril Indígena Durante este mês ocorreram diversas atividades culturais em decorrência da celebração do Abril Indígena. Espaços, como a Fundação Ema Klabin, o Kasulo e unidades do Sesc, realizaram apresentações de dança, música, cinema, visitas guiadas a espaços históricos e rituais sagrados, sempre protagonizadas e/ou produzidas por indígenas. O objetivo da programação foi mostrar a riqueza cultural dos povos originários do território brasileiro e suas influências no cotidiano da sociedade. “É impossível pensar no nosso dia a dia sem a contribuição indígena. Temos uma influência muito grande em nossa língua, na alimentação e em diversas manifestações culturais. O propósito das ações realizadas no Sesc foi o de ajudar a quebrar estereótipos e preconceitos, visando a construção de uma sociedade mais igualitária”, afirma Tatiana Amaral, assistente técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais (Gepros) do Sesc SP. O professor e escritor indígena Casé Angatu Xuluru Tupinambá explica que a manifestação cultural indígena não é apenas entretenimento, mas é parte fundamental da vida. “Para nós, não há qualquer separação entre a cultura e a vida. A pintura corporal, por exemplo, não é estética, e sim uma expressão da alma e dos nossos costumes. O colar não é apenas um adorno, é uma proteção”, comenta. Documentário As Hiper Mulheres, exibido no Sesc 24 de Maio Foto: Divulgação Todas essa atividades colocam luz sobre a necessidade de pensar sobre a causa e luta pela manutenção de direitos e a demarcação de terras. O tema ganha ainda mais relevância diante do cenário atual, com as declarações do Presidente Jair Bolsonaro, que durante sua campanha eleitoral afirmou que, se dependesse dele, não haveria mais demarcação, passou essa atribuição para os ruralistas (cujos interesses são totalmente contrários aos dos indígenas) e devido aos recentes episódios de violência da sociedade contra indígenas. Para Cristine Takuá, filósofa indígena da etnia Maxakali, o novo cenário é de grandes desafios, mas não é novidade. “Nós sabemos qual é o plano estratégico do governo brasileiro. Por trás da frase ‘Ordem e Progresso’ da bandeira brasileira, está contido um plano desenvolvimentista e, como tem ocorrido desde o início da colonização, somos obrigados a assistir nossas terras sendo saqueadas em nome desse desenvolvimento. Temos um governo extremamente racista que é incapaz de alcançar um entendimento necessário para o país tão diverso culturalmente, com diferentes formas de ver o mundo e de existir. Nosso grande desafio é conseguir estabelecer um diálogo e ser ouvido. Precisam saber que nós existimos!”, afirma. O professor Casé completa dizendo que todas as gestões anteriores têm sangue indígena nas mãos, mas que havia espaço para o debate. “Atualmente não existe diálogo e não há nenhum constrangimento nisso. Querem destruir a nossa indianidade”. De acordo com o artigo 231 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Embora o direito seja constitucional, ele se contrapõe ao lucro do avanço da mineração, pecuária, extração de madeira, etc. “Os povos indígenas protegem as florestas, bem como os demais biomas do Brasil. A luta pela demarcação de terra não é para plantarmos soja, criarmos gado ou enriquecer. É pela proteção de todos os seres, com forma de manter o equilíbrio ambiental. As ações realizadas pelos espaços culturais são importantes para que outras pessoas se juntem a nossa luta. Defender a demarcação de território é defender uma água limpa para seus filhos e netos e um ar puro para respirar. Essa luta deveria ser de todo brasileiro!”, completa Cris Takuá. Ritual Parrir e Resistir Também é visto com muita apreensão as ações etnocidas pelas quais esses povos passaram (e ainda passam) desde a colonização. Mesmo após anos de missões jesuítas, cujo objetivo era acabar com a espiritualidade indígena, eles resistiram. Atualmente, as igrejas evangélicas continuam o trabalho de tentar convertê-los, e eles continuam resistindo mesmo com essa interferência cultural e religiosa. Atualmente existem 305 etnias no brasil, com 274 idiomas diferentes. De acordo com os indígenas, a matança em nome do progresso ocorrem ainda nos dias de hoje. “Nos livros de história, sempre morremos nos primeiros capítulos. Estamos sofrendo batida policial nas matas, da mesma forma que fomos perseguidos por capitães do mato no passado. Nós não queremos ser inseridos na sociedade, queremos apenas nosso direito ancestral, originário e natural à terra, não como propriedade, mas porque somos a terra”, finaliza Casé. Leave a Reply Cancel ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website