Crédito da imagem: Sillas H.

Com a drag queen Alexia Twister no papel-título, a nova montagem entra em cartaz dia 20 de outubro no Teatro Bibi Ferreira e retrata a história da atriz e cantoraLyson Gaster (1895-1970), nome artístico de Agostinha Belber Pastor, espanhola criada em Piracicaba, que com sua companhia de teatro de revista viajou o Brasil nos anos 20, 30 e 40.

A revista musical Lyson Gaster no Borogodó estreia dia 20 de outubro para temporada até 25 de novembro no Teatro Bibi Ferreira numa nova montagem com coreografias de Ciro Barcelos (Dzi Croquetes). A peça homenageia a atriz e cantora nascida na Espanha e criada em Piracicaba, Lyson Gaster, que se consagrou nas décadas de 1920 a 1948. A montagem tem pesquisa de Maria Eugenia de Domenico, dramaturgia de Fábio Brandi Torres, direção e figurinos de Carlos ABC, produção e cenários de Marcos Thadeus e direção musical de Tato Fischer.

Com músicas ao vivo, a cargo de Tato Fischer ao piano e Henrique Vasques no acordeom e cajón, oito atores – Alexia Twister, André Kirmayr, Bruno Parisoto, Fábio Brasile, Felipe Calixto, Felipe Hideky, Marcos Thadeus e Tiago Mateus – interpretam canções como Rua do Ouvidor, A Fantasia, No Rancho Fundo e Luar do Sertão, entre outras, enquanto apresentam cenas da vida da atriz Lyson Gaster, interpretada pela drag queen Alexia Twister, trazendo à tona fatos importantes dos palcos brasileiros e resgatando parte da história cultural do País.

Por seu talento e coragem, ela foi elogiada por artistas e críticos como Procópio Ferreira, Henriette Morineu, Pedro Bloch, Rachel de Queiroz, Paschoal Carlos Magno, Eva Todor, Mario Lago e Nelson Rodrigues, entre outros.

Piracicabano, o produtor e mestre em teatro Marcos Thadeus alimentava o desejo de montar um espetáculo sobre Lyson Gaster há mais de 20 anos, quando foi apresentado à história da artista pelo diretor Carlos ABC, também piracicabano. Assim, tratou de encomendar a pesquisa para montar “um genuíno musical brasileiro.” “É bem provável que o pessoal do teatro musical de hoje nunca tenha ouvido falar em Lyson Gaster”. “Para nossa sorte, dedicados pesquisadores do gênero conseguiram recuperar parte da memória cultural brasileira e direcionaram o foco nessa atriz que foi tão importante para a classe artística.” Afirma Marcos Thadeus.

Maria Eugenia de Domenico nunca tinha ouvido falar em Lyson Gaster e, pesquisando, ficou impressionada com a relevância da artista no meio cultural da época. Eugenia ressalta a dificuldade de conseguir documentos ao vasculhar um passado completamente esquecido. “Quando se consegue os textos, eles encontram-se em estado precário, ilegíveis pois não foram digitalizados, sendo comidos por traças. Alguns, datilografados, não consegui ler.” Eugenia descobriu uma Lyson dramaturga também, que assinou textos sozinha e com o segundo marido, Alfredo Viviani. “Tivemos sorte e conseguimos um dos últimos textos escritos por ela, A Mimosa Roceira, que tem trecho incluído na peça.”

“Ela era a estrela da companhia que tinha o seu nome, às vezes só Companhia Lyson Gaster, às vezes Companhia de Comédia Lyson Gaster”, empolga-se Eugenia ao contar a história. “Ela exercia uma liderança absoluta. Era uma companhia grande, eles viajavam o Brasil todo, não só o interior de São Paulo”, continua. “Imagine, naquela época não havia teatro nas cidades, a companhia montava os espetáculos em cinemas, que geralmente possuíam palcos. Ao lado do segundo marido, ela foi desbravadora, corajosa e sempre foi bem-sucedida, formou os dois filhos (um em Engenharia, outro em Medicina), que moravam em São Paulo com os avós. Foi absolutamente bem-sucedida, empregava as duas irmãs com os maridos e o irmão na companhia, numa composição familiar. Trabalhou por 30 anos, faleceu aos 74 e quando parou de trabalhar, tinha duas casas – uma no Rio de Janeiro, outra em Teresópolis.”

Sobre a direção

A encenação de Carlos ABC tem cenas de humor, músicas, figurinos e cenários típicos. Personagens revisteiros permeiam a narrativa, como caipiras, portugueses, coristas e vedetes. “Tudo o que representa o Teatro de Revista e suas convenções estão preservadas na montagem”, informa Carlos. As músicas, clássicos populares da época, ilustram a temática e ajudam a tornar leve o desenrolar dramático. A cenografia conta com telões de grandes dimensões – 8 m por 4,5 de altura – e a indispensável escadaria, peça característica do teatro de revista, entre outros elementos cênicos que entram e saem, de acordo com as cenas. Carlos ABC, que também assina o figurino, conta que as peças “seguem os modelos da época e convidam o público a um mergulho no passado, já que o espetáculo expõe passagens da vida da atriz e do aspecto alegórico do teatro dentro do teatro de revista, da magia dos musicais”.

Sobre a dramaturgia

O dramaturgo, diretor e tradutor Fábio Brandi Torres também confessa que antes de começar a escrever o texto da peça não conhecia nada sobre Lyson Gaster, ainda que tenha estudado a fundo o Teatro de Revista. “O mergulho no universo desconhecido de Lyson, de sua carreira e de sua companhia, teve a vantagem de ter a pesquisa de Maria Eugenia de Domenico como guia, com uma estrutura muito bem concebida, incluindo indicações de músicas (Chiquinha Gonzaga, por exemplo) e textos (Artur Azevedo, Max Nunes etc).” A partir do trabalho de Maria Eugenia, Fábio começou sua pesquisa ouvindo programas de rádio da época, músicas, lendo textos de peças e de estudos. “Com este material em mãos, foi um prazer desenvolver esta peça, tendo a liberdade de contar a história de uma mulher profundamente apaixonada por sua arte, que se dedicou a levar a companhia que criou para todos os cantos do país.”

“Acho que esse é um ponto importante para destacar, porque é um fato revelador desse amor pelo teatro e que precisa ser destacado, já que vivemos uma época em que ele já não faz mais parte da vida das pessoas e já não existem companhias que se dedicam a viajar pelo país. Existem algumas produções que conseguem rodar algumas capitais, mas até isso já é cada vez mais raro. Outra grande questão que o espetáculo traz é o quanto é efêmera essa arte. Lyson marcou sua época, foi um nome aclamado por onde passava e hoje, poucos se lembram de seu nome ou mesmo o conhecem. Por sorte, Marcos e Maria Eugenia se lembraram.”

Sobre a direção musical de Tato Fischer
Para o roteiro musical, Tato Fischer garimpou preciosidades como Rua do Ouvidor, usada na trilha da peça A Capital Federal (1926), de Arthur Azevedo, e reutilizada por Flávio Rangel na montagem der 1972, que o próprio Tato já incluíra em 1985 em A Fantasia, também de Arthur Azevedo. Do cancioneiro brasileiro, No Rancho Fundo e Luar do Sertão também estão na trilha. “Tenho um largo interesse no Teatro de Revista, paixão desde sempre pelo meu trabalho como ator e diretor teatral. Depois fui me aprofundando na área e cheguei a fazer, como ouvinte, um curso na USP, com Neide Veneziano, doutora na área, com quem montei, em 1993, a revista musical Os Sonhos Mais Lindos, de Perito Monteiro.”

Sobre Lyson Gaster

Filha de imigrantes espanhóis que chegaram a Piracicaba no final do século 19, casou-se aos 17 anos e logo teve filhos. Separada, mudou-se para São Paulo com os pais e trabalhou como modista num ateliê da rua Conselheiro Crispiniano, onde conheceu artistas de teatro que a levaram para o palco. Pisou no tablado pela primeira vez em 1919, na época dos discos de 78 rotações, adotando o nome artístico que tomou emprestado de uma personagem de um romance francês. Ligou-se a várias companhias de teatro, com as quais viajou pelo Interior de São Paulo, entre elas a Companhia Cassino Antarctica e a trupe Teatro Novo. Integrou o elenco da Cia Zaparolli, ao lado de Manuel Pera, pai da atriz Marília Pera. No Rio, juntou-se a Cia Juvenal Fontes até se casar, em 1922, com Alfredo Viviani. Com o marido, participou da Cia Nair Alves e Sebastião Arruda, até o casal montar a própria companhia, a Companhia Lyson Gaster, onde o teatro de revista era o ponto forte. Os dois excursionaram pelo Brasil todo. Era a época de Dercy Gonçalves, Oscarito, Henriquieta Brieba, Zilka Salaberry e Mara Rúbia, entre outros. Lyson naturalizou-se brasileira nos anos 40 e deixou o teatro em 1950. Viviani foi contratado pela Rádio Nacional, onde permaneceu em atuação até 1963.

De Rachel de Queiroz, Procópio Ferreira a Mário Lago

Em depoimentos recolhidos pelo piracicabano Waldemar Iglesias Fernandes, reunidos no livro Lyson Gaster – A Piracicabana que o Brasil Aplaudiu e Nunca Esqueceu, estão vários elogios à atriz. Da escritora Rachel de Queiroz: “pode-se considerar Lyson Gaster como uma das pioneiras do teatro ambulante ou mambembe”. Da atriz Henriette Morineu:

“Não somente na sua terra natal, como também no Brasil inteiro, o nome da grande Lyson Gaster não pode ser esquecido.” Já a atriz Eva Todor disse sobre Lyson: “Ela fazia naquele tempo aquilo que hoje o Ministro da Educação está querendo que os artistas façam: descentralizar o teatro”. Um dos grandes nomes do teatro brasileiro, Procópio Ferreira se referiu a ela como “uma pioneira” levou o teatro aos mais longínquos e inacessíveis rincões do solo brasileiros, o nosso Anchieta de saias.

“Artista eclética, empolgando plateias, principalmente no interior, onde deixou luminoso rastro de sua passagem”. Para o poeta, compositor e ator Mário Lago: “Lyson Gaster e Viviani pertenceram a essa turma heroica que foi levando o teatro brasileiro pelo interior do país, permitindo que populações de cidades pequenas conhecessem o que se vinha fazendo nos grandes centros”.

Para roteiro

FICHA TÉCNICA

Pesquisa e Roteiro: Maria Eugênia De Domenico. Dramaturgia: Fábio Brandi Torres. Direção Artística: Carlos ABC. Direção Musical e Composição: Tato Fischer. Coreografia: Ciro Barcelos. Direção de Produção: Marcos Thadeus. Produção executiva: Nayara Rocha. Assistente de direção: Salete Fracarolli. Cenografia: Marcos Thadeus. Camareiro: Pádua Soares. Figurinos: Carlos ABC. Assessoria de imprensa: Arte Plural. Iluminação: André Lemes.

Sinopse

A montagem retrata a vida e a obra da atriz Lyson Gaster, nome artístico de Agostinha Belber Pastor, espanhola criada em Piracicaba, que com sua companhia de teatro de revista viajou o Brasil nos anos 20, 30 e 40 apresentando seus espetáculos. A proposta da revista musical é resgatar parte da história cultural do País. Oito atores em cena acompanhados de dois músicos se revezam nos papéis, nas coreografias e nas interpretações musicais.

ELENCO: Alexia Twister, André Kirmayr, Bruno Parisoto, Fábio Brasile, Felipe Calixto, Felipe Hideky, Marcos Thadeus, Tiago Mateus.

MÚSICOS: Henrique Vasques e Tato Fischer.

Sobre Alexia Twister
Alexia é formada em Artes Cênicas e tem licenciatura em Teatro e Arte Educação. Drag queen, transformista, ator, dançarino e cantor com 26 anos de carreira como drag, trabalha na casa noturna Blue Space e apresenta-se como drag queen performer por todo o país. Fez participações em comerciais e em programas de TV, também em programas na internet, como Academia de Drags, o Canal da Alexia e Bom dia Drag Queen. E é apresentadora do projeto Drag Nights, no Clube Barbixas de Comédia e do show da Netflix: Nasce Uma Rainha, junto com a cantora Gloria Groove. Atua em peças teatrais, palestras e rodas de conversa acerca da arte drag e a comunidade LGBTQIAP+, em empresas e instituições públicas. Teve performances elogiadas, via Twitter por Kylie Minogue, Guy Oseary e Lady Gaga.

Serviço

Lyson Gaster no Borogodó

Nova temporada. De 20/10/22 a 25/11/22 às quinta e sexta 20h30.

Teatro Bibi Ferreira. Av. Brigadeiro Luís Antônio, 931 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01317-001 São Paulo.

Ingressos: SYMPLA. R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia).

Sessões com libras: 27/10, 28/10, 03/11.

Sessão com audiodescrição: 04/11.

O teatro tem rampas de acesso para cadeirantes, dois espaços para cadeira de rodas e banheiro com acessibilidade.

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