Imagem: espetáculo “Prot(ÂGO)nistas – O Movimento Negro no Picadeiro”, uma das atrações do Festival. Foto de Cassandra Mello.

As artes circenses, uma das manifestações artísticas mais antigas na história da humanidade, já eram exercidas há, aproximadamente, 4.000 anos, por diversas civilizações antigas, como a chinesa, a egípcia, a grega e a indiana. Todavia, o conceito de circo começou a se formar no século VI a.C., no período do Império Romano, com a inauguração do Circus Maximus, cujas atrações principais eram as corridas de bigas ou a luta entre os gladiadores entre si ou com animais selvagens.

Apesar disso, a ideia do circo, bem como de suas atrações como conhecemos hoje – a famosa lona, picadeiro, palhaços, malabaristas e muito mais – surgiria apenas na Inglaterra do século XVIII, em 1761, graças a um ex-militar britânico chamado Philip Astley. Não demorou muito para que tal conceito se espalhasse pelo mundo e os espetáculos circenses fossem apresentados em diversos outros países. Aqui, no Brasil, não foi diferente, com a chegada do circo em 1830, por meio de famílias vindas da Europa, atingindo o auge na primeira metade do século XX.

Hoje, as atrações circenses ainda seguem encantando diversas famílias brasileiras, porém sofreram várias mudanças, após terem perdido grande parte de seu público com a popularização de outros meios de entretenimento, como cinema e televisão.

Assim, cientes da importância do circo, principalmente como meio de acesso da periferia à cultura, a Cia. Trupe Liuds apresenta o 3º Festival Internacional de Circo Saruê, no bairro de Perus, em São Paulo, nos dias 26 a 28 de agosto, a partir das 18h.

De acordo com Dedé Ferreira, integrante da Cia. Trupe Liuds, o Festival tem como intuito potencializar a arte circense na periferia de São Paulo, trazendo ao público um pouco da sua essência que, por algum tempo, esteve distante das quebradas, principalmente nas grandes cidades.

O nome do evento, inclusive, é inspirado no animal Saruê, gambá brasileiro encontrado às margens dos centros urbanos, bastante discriminado por ser um gambá e ter aparência de roedores, vivendo constantemente na luta pela sobrevivência. “Além disso, ele tem grande habilidade circense por conta de seu rabo, que lhe permite se agarrar em galhos, como também nos fios das redes elétricas, tornando-se um verdadeiro trapezista”, completa Dedé. Portanto, assim como o Saruê, o Festival se propõe a ser resistência na potencialização da cultura que possa dar voz e vez aos moradores da periferia.

Para esta 3ª edição, Valmir Sant’Anna, também integrante da Cia. Trupe Liuds, ressalta que o evento contará com diversas manifestações da arte circense, fortalecendo o ideal de promover e difundir a produção cultural, proporcionando ao público a experimentação, fruição e expressão das diversas e diferentes formas de manifestações artísticas. “O Festival contará com 13 atrações em três dias de evento, incluindo artistas nacionais e internacionais, banda e números circenses.”

Na 1º e 2º edição, o Festival aconteceu de forma online e contou com dez atrações em três dias de evento, sendo espetáculos internacionais e companhias brasileiras, além de palestras e vivências sobre a comicidade negra.

As atividades serão realizadas em frente a Casa do Hip Hop Perus, no Recanto dos Humildes – Perus/SP.

Sobre a Cia. Trupe Liuds: 

Criada em 2006, com o intuito de difundir a arte circense na periferia paulistana, a Trupe Liuds é uma companhia composta por palhaços negros que, através da linguagem lúdica, recria a realidade cotidiana e desperta o imaginário das pessoas.

Através da pesquisa na linguagem do palhaço, mesclando cenas do circo tradicional, circo contemporâneo, modalidades circenses e a cultura popular, a companhia propõe diálogos, reflexões e questionamentos sobre a cultura negra e a sociedade brasileira, e tem como proposta ocupar espaços públicos e ociosos com espetáculos, oficinas e intervenções circenses.

Com apresentações realizadas em diversas cidades do Brasil, a Cia. Trupe Liuds tem como sede a Comunidade Cultural Quilombaque, que atua no bairro de Perus desde 2005, de forma independente e autônoma, proporcionando aos moradores da região oportunidades culturais e de lazer, para que eles próprios consigam descobrir perspectivas empreendedoras e emancipatórias no lugar onde moram.

Programação do3º Festival Internacional de Circo Saruê

26/08 (sexta-feira), a partir das 18h: 

Aline Figueiredo – pirofagia 

Casca de nós: Na Mira – arremesso de facas 

Tânia Tanks – parada de mão em bambu 

Histórias de Fulejos – palhaços Mateus 

Mai Yamachi – suspensão capilar 

DUO 121 – intervenção de corda e trapézio 

27/08 (sábado), a partir das 18h: 

Dunavô – espetáculo A carriola 

Priscila Cereda – aéreo 

Tânia Tanks – parada de mão em bambu 

Aline Figueiredo – espetáculo O Sagrado 

Coletivo Família Barmú – show cômico de mágica e música 

28/08 (domingo), a partir das 18h:

Prot(ÂGO)nistas – O Movimento Negro no Picadeiro

Atrações:

Casca de nós: Na Mira: um casal, com suas diferentes personalidades, traz a irreverência de suas habilidades de precisão e mira, em um número leve e bem-humorado de arremesso de facas. 

Tânia Tanks: como o bambu, forte e resiliente, capaz de resistir aos verões e invernos mais rigorosos, dobrando-se humildemente à força do vento e permanecendo firme, assim é Tania, que hoje se faz bambu, tornando-se resistência e se aprofundando em suas raízes que a fazem se adaptar a qualquer mudança que a vida nos prepara e assim ela segue vivendo a sua essência. 

Histórias de Fulejos: nesse projeto, o ator e narrador Fagner Saraiva convida Cibele Mateus, atriz e pesquisadora da figura de “Mateus”, importante representação da Cultura Popular Brasileira, a narrar, cantar e dançar as Histórias deFulejos, vindas das manifestações populares brasileiras. O coco, a ciranda, o carimbó, o baião e o forró são os ingredientes dessa brincadeira. 

Mai Yamachi: esse ato transita em nosso inconsciente sem sentido. A trama gira em torno de uma missão: um homem que deve designar um lugar para um corpo. Morto? Vivo? Não sabemos. Mas, definitivamente, ganha vida no campo do absurdo. Em uma simbiose andrógina, através da junção das modalidades corda e suspensão capilar, a história se desenvolve em um pesadelo distópico. Denso, porém, leve. Fluido e forte. 

DUO 121: nasceu do amor e do ócio criativo. Surgiu do “e se juntássemos corda e força capilar?” Nasceu a modalidade em dupla e o duo em plena pandemia, no quintal de casa na roça de São Luís do Paraitinga. Formado por Gui Cordes – foi cordista no Cirque du Soleil por 6 anos, viajando centenas de cidades em todos os continentes, entre diversos outros trabalhos – e Mai Yamachi – aerialista, bailarina, capoeirista e entusiasta de várias artes. 

Dunavô – espetáculo A carriola: Claudius e Clóvis são dois irmãos que acabam de perder o pai, um homem trabalhador e dedicado à família, e são surpreendidos por uma carta escrita pelo patriarca em seu leito de morte, dividindo seus bens um a um. O que eles não esperavam é que o pai não teria tempo de terminar de escrever a carta. 

Priscila Cereda: formada no curso de aéreos e de acrobacias de solo no Galpão dos Parlapatões (2017). Iniciou suas atividades circenses no projeto social “CDC Enturmando Vila Ré”, aos 11 anos de idade. Em 2017, criou e apresentou o espetáculo Compasso. Nesse mesmo ano, participou da Noite de Gala do Circo, no Teatro Municipal de São Paulo, com direção de Nelson Baskerville e Hugo Possolo. Em 2018, apresentou seu número de lira e corda lisa no aniversário de São Paulo e também esteve presente na Virada Cultural Paulista, além de diversos outros trabalhos realizados. 

Aline Figueiredo – espetáculo O Sagrado: o número circense consiste em técnicas e manifestações com o fogo, com malabarismo com claves, manipulação de bastão, corda, bambolê, leques e tochas. O espetáculo descreve o fogo em outra conotação, ele não é visto como o pejorativo, o mau, como era visto no passado, pelo patriarcado, como o Fogo do inferno, o fogo da maldição das bruxas, dos sacrifícios malignos. Nessa história ele é visto como o Sagrado, o fogo central das aldeias indígenas, das celebrações e dos rituais dos povos africanos, onde todas as energias se transmutam para a Luz. 

Coletivo Família Barmú: formado pelos irmãos colombianos Daniel Satin, Julian Granito e Camilo Muñoz, nascidos na periferia de Bogotá/Colômbia, e, após longos anos distantes, se reencontraram em 2019 na cidade de São Paulo. Nesse espetáculo, o grupo apresenta um show cômico de mágica e música, que conduz o público por momentos de leveza, surpresas e risos! 

Prot(ÂGO)nistas: espetáculo de linguagem plural que reúne artistas da música, da dança e do picadeiro em sintonia fina para além da celebração, estabelecida por uma dramaturgia que convida a plateia a contemplar a estética negra em discurso permeado de potência e técnica apurada. Vinte e nove artistas ocupam o palco para acontecer na cena contemporânea, trazendo resistência da diáspora brasileira em vozes e corpos plenos de identidade e expressão.

Serviço:

3º Festival Internacional de Circo Saruê

Quando: 26, 27 e 28 de agosto, a partir das 18h 

Onde: R. Júlio Maciel,  520, Perus, São Paulo

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