Com um currículo extenso de trabalhos no cinema, no teatro e na TV, além de já ter recebido alguns prêmios por suas interpretações, o ator Marcos Breda, em entrevista exclusiva, conta um pouco de sua carreira artística. Atualmente ele vive o personagem Ravina, na novela “O Rico e Lázaro”, exibida pela Rede Record, que contou com a participação do seu filho Daniel Breda, que também foi seu filho na dramaturgia. Confira os principais trechos da entrevista de Marcos Breda ao CliqueABC, inclusive com a revelação do novo trabalho que deve chegar em breve aos palcos, a peça Irmãozinho Querido.

Matraca – Como tem sido a experiência de interpretar o personagem Ravina em “O Rico e Lázaro”?
Marcos Breda – Tem sido uma experiência rica e repleta de prazer. O personagem é instigante e a relação com os colegas de trabalho – atores, diretores, equipe de criação, equipe de produção – é extremamente prazerosa.

Matraca – E como foi atuar junto com seu filho Daniel Breda nos primeiros capítulos da novela?
Marcos Breda – Uma das maiores emoções de minha carreira e minha vida. Situação inédita para mim e que poucos atores tiveram ou têm o privilégio de vivenciar. Sinto imenso orgulho de meu filho Daniel e uma gratidão maiúscula a todos que tornaram possível essa maravilhosa experiência.

Matraca – Em outubro de 2016, foi divulgada no jornal francês “Le Monde” (acesse o artigo) uma matéria destacando o sucesso das novelas bíblicas da Record, em razão do elevado número de evangélicos no Brasil, o qual vem aumentando gradativamente. Você concorda com essa afirmação? Ou acha que o brasileiro, de um modo geral, sempre teve apreço por programas de cunho mais religioso?
Marcos Breda – Concordo com as duas afirmações. Sempre existiu no Brasil um público ávido por uma programação de cunho religioso. A população brasileira tem forte conexão com a religiosidade – de todas as cores e matizes – e, portanto, tal característica gera demanda por uma teledramaturgia que retrate esta conexão. Por outro lado, a elevação do número de evangélicos no Brasil gera, naturalmente, um crescimento desta demanda. Um fato está diretamente ligado ao outro.

Matraca – Você é adepto de alguma religião? Qual?
Marcos Breda – Já transitei por muitas religiões e respeito quase todas. Religião, como se sabe, é uma tentativa do ser humano de se reconectar (religare) com uma dimensão maior do que o seu próprio “eu”. É nosso desejo de transcendência. Acho válida qualquer religião que tenha como base o Amor, a Caridade, a Solidariedade e o Respeito ao próximo, seja ele quem for.

Matraca – Como escolheu a carreira de ator? 
Marcos Breda – Costumo dizer que foi a única carreira que não escolhi, foi ela que me escolheu. Eu fiz vestibular para Engenharia Mecânica em 1978 e a cursei dois anos. Mudei para Engenharia de Minas e cursei mais dois anos. Depois mudei para Tradutor & Intérprete, cursei mais um ano e finalmente mudei para Letras, onde acabei me formando em 1988. Tinha começado a fazer Teatro, meio por acaso, em 1980, e a atividade de ator – inicialmente uma “excentricidade” – acabou tomando cada vez mais tempo e espaço na minha vida. Quando me dei conta, tinha virado uma profissão. Foi decisivo, no entanto, descobrir que tinha muito mais prazer e alegria nesta atividade do que em qualquer outra. E, como dizia Oswald de Andrade, “alegria é a prova dos nove”.

Matraca – De todos os trabalhos já feitos na TV, no teatro e no cinema, qual personagem te marcou mais? E por quê?
Marcos Breda – Gostaria de destacar três: um de teatro, outro de cinema e outro de TV. Em teatro foi o Arlequim da peça “Arlequim, Servidor de Dois Patrões” (2002). Um personagem da rica tradição da Commedia dell’Arte, extremamente exigente em termos técnicos. Puro deleite e um aprendizado inesquecível. Em cinema foi o protagonista Mário, do longa metragem “Feliz Ano Velho” (1988). Foi um personagem e um filme que literalmente mudaram o rumo da minha vida, em termos pessoais e artísticos. Inesquecível. Em TV foi o jovem drogado Hans Wagner, da novela “Mandala” (1988). Um personagem denso e cheio de conflitos, minha primeira experiência no assim chamado horário nobre das vinte horas da TV Globo.

Matraca – Em 2015, você atuou no espetáculo “Como Eliminar Seu Chefe”, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Como foi atuar no musical?
Marcos Breda – Atuar interpretando o personagem-título de um musical foi, literalmente, um mergulho extremamente intenso. Doses cavalares de ensaios e muita, muita disciplina, dedicação e prazer. Fiz relativamente poucos musicais em minha carreira (este foi apenas o quarto), mas poucas vezes me diverti tanto. Foram seis meses de uma viagem extraordinária que guardo na memória com muito orgulho e carinho.

Matraca – Nos últimos anos o número de musicais em cartaz, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, cresceu muito. Não somente espetáculos baseados em sucessos da Broadway, como as criações nacionais. Como você vê o aumento de musicais homenageando grandes nomes da cultura brasileira?
Marcos Breda – Os musicais na cena brasileira aumentaram em termos exponenciais, não somente em quantidade, mas também e, principalmente, em qualidade. Temos hoje profissionais de alto nível se dedicando a esta vertente, com resultados que nada ficam a dever a grandes produções internacionais. Um mercado de trabalho extremamente bem-vindo e uma opção de qualidade no panorama teatral brasileiro.

Matraca – Em 2015, você também atuou em “Oleanna”, de David Mamet, que, por meio de um diálogo conflitivo entre um professor e sua aluna trouxe uma reflexão sobre incomunicabilidade social. Como foi atuar nessa peça?
Marcos Breda – Um trabalho do qual muito me orgulho. David Mamet é um dos maiores dramaturgos contemporâneos e esse texto é particularmente fascinante. Foi um trabalho de equipe extremamente elaborado, numa parceria como poucas vezes tive em teatro.

Matraca – Apesar de “Oleanna” ter sido escrita em 1992, a incomunicabilidade abordada é perfeitamente aplicável nos dias de hoje, em que nunca se falou tanto sobre tudo e nada ao mesmo tempo, dada a avalanche de informações despejadas sobre os receptores. Como você avalia esse cenário?
Marcos Breda – “Sou responsável pelo que digo, mas não pelo que você entende.” Esta frase resume bem o conflito central de “Oleanna” e também é uma amostragem da avalanche de opiniões que temos hoje em dia com este verdadeiro tsunami das redes sociais. Claro que 90% das informações trocadas são puro lixo, mas não deixam de ser um retrato fascinante – e assustador – deste início de século XXI, onde agora se fala na tal “pós verdade”. Ainda não temos a exata noção da dimensão desta mudança planetária de paradigmas na comunicação – e manipulação – dos fatos. Os próximos anos devem ser bem esclarecedores em relação a este fenômeno.

Matraca – Você já estudou teatro na França? Como foi essa experiência e quando foi? 
Marcos Breda – Na verdade, estudei teatro na Inglaterra e não na França. Foi através da Bolsa Virtuose concedida pelo Ministério da Cultura em 2000/2001, quando fui estudar na École Philippe Gaulier. Estudar o trabalho do ator em outro país e outro idioma foi um aprendizado incrível. Aprendi em seis meses de curso mais do que em seis anos de trabalho. Também foi importante ter esta oportunidade aos 40 anos de idade e 20 de carreira. Creio que pude aproveitar muito mais, porque já tinha uma certa estrada e, portanto, maior capacidade de separar o joio do trigo. Uma reciclagem absolutamente decisiva num momento de minha vida em que, creio, tal depuração se fazia necessária.

Matraca – Você é um ator renomado no teatro, na TV e no cinema, tendo realizado diversos trabalhos. Já ganhou prêmios como o Kikito, de Melhor Ator de Curta-Metragem em Gramado por “Sargento Garcia”, em 2000. Ano em que também recebeu o Prêmio Prawer/APTC por seu trabalho nos filmes “Sargento Garcia” e “Dois filmes em uma noite” e, em 2003, levou o prêmio Qualidade Brasil pela atuação na peça “Arlequim, servidor de dois patrões”. Você se considera uma pessoa realizada?
Marcos Breda – Eu me considero uma pessoa afortunada pelas oportunidades que tive e também pelas rasteiras que levei. Creio que todos os meus altos e baixos foram extremamente educativos e amadurecedores. Alguns momentos foram particularmente duros, outros tantos foram sublimes. Nunca foi fácil, não é fácil e creio que jamais será fácil, mas ninguém disse que seria. Ser ator é estar continuamente vivendo no Presente do Indicativo que, não por acaso, é o tempo verbal das rubricas dos textos dramáticos. Estar preparado, presente e disponível é essencial e o próximo trabalho será sempre a oportunidade de crescer e continuar aprendendo. Realização profissional para mim é o Aqui/Agora.

Matraca – Já está com algum projeto para voltar aos palcos em breve?
Marcos Breda – Sim, a peça “Irmãozinho Querido”, com texto e direção de Flávio Marinho. A estreia está prevista para outubro deste ano de 2017, no Rio de Janeiro, e o espetáculo também deve ficar em cartaz em São Paulo.

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